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COMPREENDO E ACEITO

 

Na peregrinação à Senhora da Muxima

Mãe e intercessora do Povo de Deus

 

 

Irmãs e irmãos,

é com os olhos emocionados e o coração cheio de alegria que observo esta imensa multidão de peregrinos que se juntou para louvar, agradecer e imitar a Virgem Santa Maria. Eu sou apenas mais um que sente imenso gosto de se juntar a vós e de me fazer peregrino entre os peregrinos de Nossa Senhora da Conceição da Muxima, cujo título é não somente o mais venerado em Angola, mas, provavelmente, em toda a África.

Porque somos o Povo de Deus a quem o Senhor concedeu Pastores e demais servidores para o guiar e levar a “pastagens verdejantes” (Sl 23, 2-4), seja-me permitido começar por saudar o senhor D. Emílio Sumbelelo, que teve a gentileza de me convidar para esta peregrinação e que, nestes dias que cá passarei, é também o meu bispo. O vosso e o meu bispo. Nele, cumprimento afetuosamente os outros servidores do povo de Deus de Angola: os senhores bispos, sacerdotes, diáconos, seminaristas, catequistas e quantos fazem do serviço divino o centro da sua existência. Com igual afeto, apresento as minhas saudações às distintas autoridades civis, militares e de todo o género e aos representantes das instituições: parabéns por aquilo que fazem ao serviço deste povo tão encantador. Nunca se cansem de fazer o bem. E tenham a certeza que, desde aquele pequeno cantinho que é Portugal, temos um especial afeto por este muito apreciado e admirado povo angolano, até porque temos alguma história comum e este dom de nos entendermos na mesma língua. E, evidentemente, mando daqui uma especial saudação a todos e cada um de vós, caros peregrinos, na diversidade das vossas situações, idades e proveniências: aos mais idosos e frágeis, portadores de uma tantas vezes sofrida história de vida; aos casais que santamente vivem o seu matrimónio e zelosamente cuidam dos filhos; aos jovens, esperança da Igreja e do mundo; às tantas crianças que estou a ver e que nos garantem que onde há crianças há futuro; enfim a todos e cada um de vós que viveis a fé e sonhais um mundo melhor.

Celebramos a Mãe comum. Quando se fala em Mãe, os nossos corações, tão duros e rancorosos, tornam-se um pouco mais sensíveis e acolhedores. Mas quando esta Mãe é a Mãe de Jesus e nossa Mãe, quando se trata da Virgem Maria, então estes nossos corações sentem-se invadidos por uma serenidade que nem sabemos explicar bem e por um ânimo que nos aproxima dela.

Sim, ela só quer o nosso bem. E isto sensibiliza-nos e faz-nos ganhar muito amor por ela. Na primeira leitura que escutamos, aparecia-nos a figura histórica de Ester, a mulher forte, que quando soube que um governante andava a congeminar planos para exterminar o povo judeu, dirige-se ao rei e suplica-lhe que não permita o mal do seu povo. E o rei assim fez. E a leitura termina com estas palavras belas: “Para os judeus foi um dia de luz e alegria, de festa e triunfo […] e celebraram banquetes e festas”. Eis, embora de uma maneira muito reduzida, uma imagem de Nossa Senhora: ela intercede junto do Deus Todo-poderoso pelo bem dos seus filhos, pela paz nesta pátria e em todo o mundo, pela saúde dos doentes e frágeis, para que os jovens consigam a realização dos seus sonhos, para que as crianças cresçam saudáveis de corpo e alma, para que os pecadores se convertam, enfim, para que este nosso mundo seja já uma ténue imagem do que será o Reino de Deus em plenitude.

O Evangelho vem confirmar esta mesma certeza: a de que Maria está sempre presente nas horas das nossas angústias e aflições. Naquele casamento faltou o vinho, produto absolutamente indispensável naquela mentalidade e naquele tempo. Há o silêncio dos empregados, aflitos com a situação. Parece, também, que ninguém ainda tinha dado conta da situação. Mas Maria, a Virgem Nosso Senhora, sim. É que ela está tão intimamente presente na história do mundo e na vida das pessoas que descobre mesmo antes que alguém lhe diga. Ela não está lá bem longe, numa qualquer outra estrela ou planeta. Não! Ela está contigo, caro peregrino, comigo, com quantos a têm por Mãe. E que é que ela fez depois de dar conta de que faltava o vinho? Foi arranjá-lo junto do único que o poderia fornecer naquele momento: o seu Filho, Jesus Cristo, o único Salvador. Reparem: foi pedir, interceder, apresentar uma dificuldade, como já tinha feito Ester. É por isso que nós a chamamos Mãe e medianeira de todas as graças.

Caros irmãos e caras irmãs em Cristo, o centro da nossa fé é o Senhor Jesus, morto e ressuscitado para nossa salvação e revelador definitivo do Mistério do nosso Deus. Mas depois de Jesus Cristo, não há ninguém que ame os seus com tanta ternura como Nossa Senhora, que cuide tanto dos seus filhos, que se possa apresentar como modelo do que é ser católico e membro da Igreja. Sim, costumamos dizer que ela é a primeira verdadeira crente. E é verdade porque centrou a sua vida em Jesus, fez o que ele fez, esteve sempre com os outros crentes como no dia de Pentecostes, animou a fé dos desanimados, serviu os necessitados, rezou em Igreja, formou a sua fé em Igreja, exerceu a caridade em Igreja. Façamos também nós como ela e estaremos no caminho da plenitude e da salvação.

Por tudo isto, apetecia-me terminar em oração convosco e por vós, a partir de um belo texto rezado frequentemente por um grupo de leigos italianos: Minha Mãe, Tu que estás continuamente de braços abertos a implorar ao Teu Divino Filho a Sua misericórdia e compaixão por cada pessoa, por cada um de nós. Pede-Lhe que nos dê o Seu santo amor, o seu santo temor e a sua santa graça. Obtém para nós, nossa santa Mãe, a graça da Fé, da Esperança e da Caridade.

Abençoai, Virgem Santa, as nossas famílias e libertai-as de todo o mal. Livrai-nos dos desastres, da peste e da guerra. A nós e a todo o mundo. Intercede, minha Mãe, por esta querida pátria para continuar o processo de desenvolvimento, educação, saúde e tudo aquilo que faz desta uma vida mais humana. Concede a esperança aos desanimados, a liberdade aos prisioneiros, a alegria aos que vivem mergulhados em lágrimas. Lembra-te da natureza, da necessidade que temos dela, e fazei que a guardemos e cultivemos como é da vontade e do plano de Deus. Abençoai todos os filhos de Deus e o Santo Padre para que encontremos nas vias da sinodalidade, da missão e da participação os caminhos de renovação da Igreja.

Por fim, peço-te, minha Mãe, que espalhes sobre as nossas almas os raios luminosos da misericórdia do bom Jesus e que estejas perto de mim em todos os perigos da minha vida. Amém.

 

 

+ Manuel Linda 31 de julho de 2024