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COMPREENDO E ACEITO

V Domingo da Páscoa - 2021

Dia da Mãe e Bênção dos Finalistas ou das Pastas

 

Por uma feliz coincidência, neste quinto Domingo de Páscoa, celebramos o Dia da Mãe e, com esta apreciada representação das nossas Universidades, Escolas, Faculdades e outras Unidades Académicas, realizamos a bênção dos finalistas e das suas pastas, símbolo que os identifica. Fazemo-lo quando se comemora o centenário deste gesto e da festa que se lhe associa: a queima das feitas. Pena é que não se possa fazer com todos, com aquela multidão cheia de ânsias e esperanças, como é habitual. Quero, porém, que saibais que cabeis todos no meu coração: convosco dou graças a Deus pelo dom impagável do curso com que partis para a vida; por vós rezo para que a graça divina vos ajude a encontrar trabalho e a exercê-lo para vossa realização e para o bem-comum da sociedade a quem vos deveis. Talvez o facto de não se poder fazer a tal bênção multitudinária favoreça em cada um a dimensão mais introspetiva e contemplativa que ajude a dar graças e a comprometer-se com um futuro humanizante e de valores que ultrapassem a mera e compreensível aspiração de êxito individual.

Para além de as saudar muito cordialmente, começo por uma palavra sintética sobre as mães. Em cada um de nós, há como que uma carência de proximidade e carinho e, ao mesmo tempo, uma necessidade de comunhão. É da nossa psicologia; é da nossa base antropológica. Pois bem, a satisfação dessa dimensão humana que nos conduz ao contacto empolgante e festivo com o semelhante começa precisamente ao colo da mãe. Ela não só nos coloca neste mundo como nos dá o modelo da forma de nos relacionarmos: com meiguice, carinho, gargalhadas, segurança. Ela ensina-nos a fazer o que S. João proclamava no início da segunda leitura escutada: “Meus filhos, não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e em verdade”.

A mãe, de facto, é o nosso primeiro espaço de comunhão. É nele que nos sentimos pessoa no meio das pessoas, “graças ao incessante dinamismo do amor, que é a dimensão fundamental da experiência humana e que tem precisamente na mãe um lugar privilegiado para se manifestar”. De outra forma, não nos reencontraríamos com a nossa natureza, ficaríamos eternamente pobres, já que fechados em nós mesmo e nas nossas carências, desconheceríamos o amor, pois só este faz com que a pessoa “se realize através do dom sincero de si: amar significa dar e receber aquilo que não se pode comprar nem vender, mas apenas livre e reciprocamente oferecer”. As mães são esta carícia com que Deus nos brinda, logo ao chegarmos a este mundo. Que a Mãe de Jesus, muito recordada neste mês de maio, peça pelas nossas mães. Obrigado, mães.

Dirijo-me, agora, de forma especial aos finalistas do ensino superior que estão nesta Sé ou nos acompanham pelas redes sociais. Em vós, saúdo todos os vossos colegas que terminam os seus cursos e penso naqueles que, no ano passado, também não puderam fazer festa e comemorar coletivamente este momento tão importante das vossas vidas. Abençoo a uns e a outros.

Para além de um merecido título que vos credencia como Mestres ou Licenciados e vos abre as portas do mundo do trabalho, levais convosco uma forma de ver e perceber o mundo, uma sólida cultura. E cultura é coisa séria, aliás, atualmente, muito valorizada. Ainda bem. Temos, porém, de nos perguntar: quais os conteúdos dessa cultura?; que valores a informam?; ao serviço de qual desígnio se coloca?

Em perspetiva cristã, a cultura exprime a verdade sobre a pessoa, individual e social. Remete para uma sã antropologia que evite visões redutoras e ideologias desumanas, sempre ultra-passadas, mas hoje a renascerem como se constituíssem a última novidade. Concebe a pessoa como ser de inteligência, vontade, consciência e fraternidade. Vale a pena uma palavra simples sobre cada uma delas.

A complexidade social e as tarefas a executar num mundo cada vez mais evoluído exigem uma inteligência bem formada. Não somente a instrumental. Mas uma outra, mais introspetiva e emocional. Que essa inteligência penetre a beleza da obra criada e, por ela, ascendais ao Autor de tanta perfeição.

Numa cultura do like ou do sentimentalismo vago que ganhou em extensão o que perdeu em profunda intimidade, só a força de vontade capacita para aderir às grandes causas, quais sejam a justiça social, verdadeira liberdade, compromisso com o desenvolvimento integral, ecologia e uma especial solicitude para com os frágeis e excluídos. Ainda que tenhais de seguir em contracorrente com a maioria, valorizai sempre a determinação. Não a teimosia. Mas a determinação pelo bem e pela verdade.

Num mundo absolutamente plural e de propostas contraditórias, escutai com afinco a voz da consciência. Sede livres. Sede vós mesmos. Nunca vos deixeis submergir. Se preciso for, resisti mediante a objeção de consciência, pois nem todas as técnicas engrandecem a humanidade.

E nunca vos esqueçais que o individualismo, o «magnífico isolamento» é uma mentira. Ninguém conseguiria sobreviver sozinho. Até para chegarmos ao mundo tivemos necessidade dos outros. Pelo menos, dos nossos pais. Por isso, não há pessoa sem sociedade. E como não somos lobos no meio dos lobos, o único timbre de relação possível com os outros chama-se fraternidade.

No Evangelho que escutamos, Jesus apresenta-Se como a videira e os seus discípulos como as varas da mesma. Ora, para que as varas produzam fruto, não basta estarem perto da videira: é necessária uma completa união de vida. Inseri-vos bem em Cristo, deixai correr em vós a Sua seiva e vereis que a vossa vida será produtiva.

Recebei os meus parabéns pelo vosso curso. E recebei também a certeza de que o vosso bispo rezará para que sejais agentes de transformação deste mundo pelo vosso trabalho em função da sociedade e pelo timbre de relacionamento com todos. E nisso encontrareis a felicidade. Deus vos ajude a encontra-la e a promove-la.

 

 

Manuel Linda, Bispo do Porto 02 de maio de 2021