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Corresponsáveis na missão do “rebento da justiça”

(1º Domingo do Advento 2021/22)

 

Com este primeiro Domingo de Advento, começamos um novo ciclo litúrgico –diríamos: um ano novo- e começamo-lo da melhor maneira: instituindo um número significativo de jovens e adultos para o único serviço ministerial, embora com a vertente da proclamação e difusão da Palavra de Deus e também a da ajuda na celebração da glória e do louvor que só a Deus pertence. Sinto-me feliz por vos confiar formalmente este serviço, em nome da Igreja, que exercereis para sempre e dedicadamente.

Os ministérios laicais originam-se na chamada aos membros da Igreja e consequente resposta, a nível da consciência, para que participem ativamente na edificação do Corpo de Cristo. É obrigação de todos contribuir organicamente com o seu trabalho, capacidades e carismas, para que o povo de Deus se solidifique na fé, na esperança e na caridade. É quanto refere o Concílio: “Os leigos, reunidos no Povo de Deus e inseridos no único Corpo de Cristo sob uma só cabeça, são chamados a concorrer, como membros vivos, com todas as forças […] para o crescimento da Igreja e sua contínua santificação. O apostolado dos leigos é participação na própria missão salvadora da Igreja” (LG 33).

A própria palavra “ministério”, na nossa conceção religiosa, indica uma realidade de serviço, uma dedicação ao outro, a quem se atribui a primazia e a centralidade. Era este, de facto, o significado original da palavra que, no grego clássico, remetia para a ideia de uma tarefa custosa e até desprestigiante, típica dos escravos. Tornou-se como que apanágio ou emblema de Cristo, o supremo servidor do Pai e das pessoas. Na sua liberdade amorosa, o Senhor Jesus fez da sua vida um dom e um serviço que culminou no mistério pascal. O que arrancaria este comentário/síntese ao evangelista: “Cristo não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate pela multidão” (Mt 20, 28).

Deste modo, enquanto comunidade que preserva a memória do seu Senhor e lhe copia as atitudes, a Igreja é chamada a servir, sempre e em qualquer circunstância, “até que Ele venha” (1 Cor, 11, 26). Ser membro da Igreja supõe fazer como o Salvador fez e continuar a sua ação. Todos. Os ministros ordenados, mas também todo e qualquer cristão que tome consciência da grandeza e das responsabilidades inerentes a essa condição. É que, por força do sacerdócio batismal ou “sacerdócio comum dos fiéis”, cada crente é chamado a assumir a responsabilidade da missão eclesial e a colaborar ativamente para a edificação da comunidade cristã e para a implantação do Reino de Deus na história.

Porém, esta universalidade ministerial não impede que se confiem específicas tarefas a pessoas determinadas. É o caso destes Ministérios dos Leitores e dos Acólitos, concretização específica do dever geral do serviço e participação mais vinculante na comunhão e missão da Igreja. Se, a partir da incorporação a Cristo, pelo Batismo, todos os fiéis são corresponsáveis na vida da Igreja, vós, caros instituendos, sois mandatados expressamente para uma colaboração específica. Não a negueis e exercei-a a partir do fundamento da vossa inserção em Cristo.

Esta doutrina da corresponsabilidade e da colaboração já está, de algum modo, presente nas leituras que esta liturgia nos apresenta para começarmos a preparar o grande mistério da Encarnação. A participação na vida divina, para onde aponta toda a história da salvação, atinge o ponto culminante e definitivo em Jesus Cristo. Ele mostra-nos o Pai, reconcilia-nos com o Pai, insere-nos no Pai. Ele é o “rebento de justiça” vislumbrado por Jeremias, pois fará com que na cidade dos homens se cumpra a promessa divina de um reino de justiça, de verdade e de paz. O que só pode gerar em nós a alegria, a esperança ativa, a renovação, a ânsia da libertação. Sim, mesmo que o Evangelho deste dia nos pareça medonho e de cores carregadas, a grande afirmação é que o “Senhor vem”: vem, porque Se faz homem, habitar connosco e no meio de nós e vem, numa segunda vinda, como restaurador universal. E vem como é: como Salvador, como príncipe da paz, como nosso intercessor junto do Pai.

Caros cristãos, façamos do Advento uma tomada de consciência desta beleza inerente ao mistério cristão. E vós, próximos Leitores e Acólitos, colaborai ativamente na difusão e celebração desta verdade no interior da Igreja e levai-a também ao conhecimento de um mundo que, em grande medida, a ignora.

Deus vos ajude.

 

 

Manuel Linda, Bispo do Porto 28 de novembro de 2021