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I Domingo de Advento – 2022

Para fazer de Cristo o coração do mundo

 

Começamos hoje um novo ciclo litúrgico. Arranca logo a sublinhar uma verdade professada no Credo e da qual nem sempre tomamos consciência, mas que funciona como meta da vida da fé: a de que o Senhor “de novo há de vir na sua glória”, tal como já veio na pobreza da nossa humanidade. Uma vinda reclama a outra, razão pela qual, neste tempo de Advento, as duas aparecem interligadas. Por isso, a preparação interior de que falava a oração coleta, aplica-se à rememoração cultual da primeira vinda e, com igual razão, à vivência, em esperança, da segunda: “Despertai, Senhor, nos vossos fiéis a vontade de se prepararem, pela prática das boas obras, para irem ao encontro de Cristo”.

Para vincar esta preparação e este encontro, a primeira leitura apresenta o Monte Sião, o lugar elevado onde foi construído o Templo de Jerusalém, como imagem ou metáfora do Reino de Deus, essa plenitude do convívio e da familiaridade do Senhor com o seu povo e do povo com o seu Senhor. E o resultado é a plena união desta nova família cimentada no amor, a ponto de as guerras desaparecerem, já que, “não mais levantará a espada nação contra nação, nem mais se hão de preparar para a guerra”. Por sua vez, o Evangelho, que recolhe toda esta teologia do Antigo Testamento, acrescenta algo de novo: a vigilância.

Esta disposição da vigilância que, no âmbito da fé, é uma autêntica virtude, deve entender-se no contexto da revelação bíblica. Para esta, a vinda do Messias é a verdadeira resolução da história e o seu ponto mais alto. Por exemplo, Habacuc, qual sentinela vigilante, prega: “Esperai-o, pois chegará no momento preciso” (Hab 2,3). E Jesus faz da vigilância um motivo central da sua pregação: não como domínio das mentes pelo pavor ou pânico, mas como tensão para um futuro que há de ser de glória, de plenitude, de felicidade. O que, na prática, coincide com a noção de vida eterna ou felicidade bem-aventurada. No entanto, também se reclama a necessidade de estarmos despertos para o que se passa à nossa volta, pois, como recorda o sermão sobre o juízo final (Mt 25, 31-64), o Senhor está presente nos que passam fome, nos que não têm com que se vestir ou casa para se recolherem, nos doentes, nos que choram, etc. E não aconteça que, mais ou menos desatentos pela preocupação do nosso êxito pessoal, deixemos de ver o Senhor nos pobres e os pobres como nossos irmãos.

Tudo isto se relaciona diretamente com os Ministérios, concretamente com os de Leitor e Acólito nos quais, agora mesmo, alguns fiéis vão ser instituídos. Inerente a cada um deles está a noção de que o carisma que os alicerça é útil e necessário não somente para a edificação da Igreja mas também, de igual modo, para o serviço da comunidade humana. De facto, muito interessa à sociedade esse clima de boa convivência que, alicerçada no Pai comum, edifica a paz, gera a harmonia e dispõe à felicidade. O Ministério dos Leitores, ao prever não só a tarefa da proclamação da Palavra libertadora no interior da celebração litúrgica, mas igualmente no anúncio ao mundo mediante a evangelização e a catequese, deveras contribui para isso. E o mesmo se diga do Ministério dos Acólitos. Como refere o rito da instituição, a eles se pede que sejam “promotores da unidade à volta do mistério eucarístico”, mas também “instrumentos do amor de Cristo e da Igreja para com os mais débeis e enfermos”.

Precisamente por esta dimensão que edifica a Igreja e não menos a sociedade, estes serviços dizem respeito a todos os batizados e confirmados. Quanto se vivem de maneira particularmente comprometida, ocupam um largo espaço na existência de alguém e o bispo verifica que existe preparação adequada e perspetivas de estabilidade, por recente determinação do Papa Francisco, aliás no seguimento do pensamento do Concílio Vaticano II e da intuição do Papa São Paulo VI, neles podem ser instituídos candidatos ao sacerdócio ou não, homens e mulheres, pessoas de qualquer idade, a partir de um mínimo a determinar pela Conferência Episcopal. O mesmo vale para o outro Ministério, exercido desde sempre e absolutamente fundamental para a transmissão da fé, mas sem instituição formal, e que o Papa Francisco, agora, elevou à categoria de Ministério instituído: o do Catequista, “um perito em humanidade [que] conhece as alegrias e esperanças dos homens, as suas tristezas e angústias e sabe coloca-las em relação com o Evangelho” (CEP, Carta de setembro de 2022).

Caros fiéis em Cristo em geral e vós, instituendos, em particular, é para isso que aponta a perspetiva sinodal a que nos estamos a habituar e a empreender. Ser cristão e exercer um Ministério no século XXI equivale, segundo palavras do Papa Francisco, a “«fazer de Cristo o coração do mundo» que é peculiar missão de toda a Igreja. Precisamente este serviço em favor do mundo, único, mas diversificado, alarga os horizontes da missão eclesial, impedindo-a de se encerrar em lógicas estéreis que visam sobretudo reivindicar espaços de poder e ajudando-as a experimentar-se como comunidade espiritual que «caminha juntamente com toda a humanidade e experimenta simultaneamente com o mundo a mesma sorte terrena» (GS, n. 40). Nesta dinâmica pode compreender-se verdadeiramente o significado de «Igreja em saída»”.

Caros Instituendos, conto com o vosso contributo firme e ativo, aliás, requerido pela vossa vocação batismal, para “fazer de Cristo o coração do mundo”. Que a Senhora do Advento, a Virgem Santa Maria da Vandoma, nos ajude neste santo propósito.

 

 

Manuel Linda, Bispo do Porto 27 de novembro de 2022