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COMPREENDO E ACEITO

 

Metamorfoses

A urbanização, entendida como concentração de pessoas em grandes megalópoles e, fundamentalmente, como processo de transformação de mentalidades, é um fenómeno imparável. Comprovam-no as estatísticas. Pequenos fenómenos de «regresso ao campo» e «ilhas tradicionais» no interior das metrópoles não passam de trémulos intentos de reação.

Sempre se associou concentração urbana com secularização. Mas, da mesma forma que, quanto à época cultural, já há muito se fala numa pós-modernidade, do mesmo modo, sociólogos e antropólogos utilizam o conceito de pós-secularização.

De facto, há dois fatores que caraterizam a cidade contemporânea: a aceleração e a processualidade, entendida como mudança de paradigma. E isso diz respeito a tudo: também ao modo coletivo de crer e viver uma fé.

Se é notória a diminuição da prática crente, também assistimos a uma inédita constelação da religiosidade popular. Veja-se o fenómeno das mega-igrejas, quase sempre ligadas a novas comunidades de fé ou movimentos religiosos. Ouvimos dizer que enchem estádios ou possuem os maiores auditórios. Enormes multidões agregam-se à volta de um líder carismático, assentam numa espiritualidade emotiva, cultivam uma ética da prosperidade (saúde, dinheiro, amor), celebram um culto gestual e fomentam uma maior proximidade existencial entre os fiéis.

Ora, isto reclama a nossa atenção. Até porque, ao contrário do que se pensava, não se trata de um fenómeno efémero. Pode acontecer que, em alguns casos, o êxito destas expressões comunitárias da fé constitua uma acusação implícita à dinâmica católica, onde predomina o «quem quer quer, quem não quer não quer», em detrimento do contacto pessoal. E com celebrações belíssimas, mas frias e com pouca participação da maioria. Isto é: um modelo em que o crente, teoricamente, se encontra com Deus, mas não com o irmão e com o entusiasmo que o grupo gera.

O urbanismo cria novas relações sociais. Mas são contraditórias. Tanto pode ser a constituição de grupos de pertença que funcionam como verdadeira segunda família, onde a pessoa se sente bem, como um isolamento quase tangível. Será que, em muitas das suas estruturas, o catolicismo ficou com este segundo âmbito e entregou o primeiro, de mão beijada, a essa religiosidade alternativa?

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Foto: Londres 2016 - João Lopes Cardoso