“Quero voltar ao meu trabalho, voltar a nossa casa e dormir nas nossas camas”. – Alina que ainda agora chegou a Portugal já sonha com o seu regresso a Kiev. Escolheu o Porto numa pesquisa na Internet, onde verificou que o Seminário do Bom Pastor aparentava ser “um lugar calmo”, num país ainda “com poucos ucranianos”.
Até chegar a Ermesinde, Alina, o seu filho Danyil prestes a fazer um ano e a sua Mãe Larysa sujeitaram-se a vários dias de viagem. Saíram de carro de Kiev a 6 de Março, mas só deixaram território ucraniano no dia 10. Seguiu-se um percurso de autocarro até à Eslováquia, de onde seguiram de comboio para Budapeste. E foi na capital da Hungria que compraram bilhete de avião até ao Porto.
Já instalada no seminário do Bom Pastor, no espaço que até há bem pouco tempo serviu de retaguarda a doentes Covid, Alina confessa que não sabe como está a sua casa, e revela que vai mantendo contato com o seu marido. Com o irrequieto Danyil sempre por perto, esta jovem de 32 anos não quer falar muito do cenário de guerra, mas sempre vai adiantando que “não tinha outra escolha” e que a saída de Kiev “era inevitável”. “Foi uma decisão muito difícil porque muitos dos nossos amigos e outras pessoas não têm possibilidade de viajar, mas não tínhamos muita escolha”, sublinha. E talvez embalada pelo conforto da nova casa, a jovem bancária formula a esperança de voltar à Ucrânia. “Quero voltar ao meu trabalho, queremos voltar à nossa casa, e dormir nas nossas camas”, diz.
Antes de iniciar viagem, Alina já sabia onde se queria instalar. Revela que foram procurando “a “informação pela Internet”, que levou “à decisão de vir para Portugal porque muitas cidades na Europa já acolheram muitos cidadãos ucranianos, e não terão muita habitação disponível, mas no Porto eu li que ainda não tinham vindo muitas pessoas, e viemos para cá”. “E agora vivemos aqui. É um lugar muito bonito com pessoas amigas. Todas as pessoas com quem estivemos mostraram ser muitas amigas”, sublinha.
A primeira impressão da sua nova residência foi a melhor, levando a jovem mãe a pedir autorização para colocar nas suas redes sociais fotografias e comentários abonatórios sobre a sua nova morada. Depois de uma decisão difícil dado que não conhecia ninguém em Portugal, nem tinha conhecimento do país, esta jovem bancária declara-se feliz pela sua opção.
Para trás ficava uma decisão muito difícil, e ao mesmo tempo facilitada pela realidade vivida de Kiev. Alina não se abre muito sobre o cenário de guerra, preferindo direcionar o seu pensamento para as dificuldades sentidas em abandonar Kiev, porque “muitos dos nossos amigos e outras pessoas não têm a possibilidade de viajar, e é muito difícil, mas não tínhamos muita escolha”. E sempre atenta ao telemóvel, sempre à espera de notícias da Guerra, Alina volta a aconchegar Danyil, para confessar que “tudo é muito stressante, porque os nossos maridos continuam em casa e nós estamos aqui”, mas “temos esperança que tudo fique bem rapidamente”. “Queremos voltar, quero voltar ao meu trabalho, queremos voltar à nossa casa, e dormir nas nossas camas”, afirma.
Um trabalho em rede para ajustar às contingências da guerra
O Seminário do Bom Pastor está preparado para receber até 75 pessoas, num trabalho coordenado pela Obra Diocesana de Promoção Social. O seu Presidente, o padre Manuel Brito garante que o pavilhão 4, que até há poucos dias foi um hospital de retaguarda para doentes Covid, está “devidamente preparado”, e promete ajustar a estratégia de acolhimento àquilo que a realidade da guerra vier a definir. O sacerdote garante que “tudo depende de como o conflito evoluir”, dado que “nós não temos propriamente um modelo definido, e iremos ajustá-lo às pessoas que nos vão chegando”. A ideia é “acolher, proteger e depois naturalmente articular todo este nosso trabalho com os organismos públicos e também com os organismos da própria Diocese, a Caritas, e o secretariado das migrações. “Iremos fazer este trabalho em rede”, declara.
(Henrique Cunha, Rádio Renascença)