A Vigararia da Trofa-Vila do Conde é ampla no seu contexto social e religioso, com paróquias de meio rural e urbano. Desde logo, abrange dois concelhos que, percorrendo as margens do mesmo rio Ave, desenham uma parte dos limites da nossa diocese a norte. São 28 paróquias, das quais 8 pertencem ao concelho da Trofa e 20 ao concelho de Vila do Conde. É na sobre tudo na Trofa que podemos encontrar uma malha urbana de maior dimensão, ao passo que as paróquias vila-condenses, sendo numericamente mais, têm uma dimensão populacional mais reduzida.
Toda esta diversidade reflete-se numa especial riqueza pastoral e, em particular em grupos de jovens variados na sua composição, organização e linhas de orientação. Temos cerca de quinze grupos de jovens ativos de base católica e associados à vida paroquial, alguns constituídos por um grande número de elementos, pedindo aos responsáveis uma atenção e dinamismo pastoral adequado, e outros mais pequenos, proporcionando um acompanhamento de maior proximidade com os jovens.
O Papa Francisco teve toda a razão quando disse, na missa de encerramento das Jornadas Mundiais da Juventude no Panamá, que os jovens são o presente da Igreja. Ele disse-o com estas palavras: «Vós, queridos jovens, não sois o futuro. Gostamos de dizer-vos: “Sois o futuro…”. Mas não é verdade! Vós sois o presente! Não sois o futuro de Deus; vós, jovens, sois o agora de Deus». Sinto que isto mesmo se vive na Vigararia da Trofa-Vila do Conde, pois que são os jovens os grandes protagonistas em iniciativas pastorais e sociais que dinamizam as comunidades e promovem a fé, com uma grande capacidade de congregar as pessoas e transmitir uma refrescante mensagem de que a fé está viva e faz viver.
Em todo este dinamismo pastoral liderado pelos jovens, são de grande importância os responsáveis dos grupos de jovens, pois que são eles que os vão orientando e acompanhando nas suas iniciativas, incentivando o crescimento dos grupos na unidade, na fé e nessa ligação à comunidade. Por isso é tão importante que estes responsáveis, companheiros de viagem, sejam cristãos convertidos, preparados, e com um espirito jovem – ferramenta indispensável para falar a mesma linguagem dos mais novos. Também os párocos assumem uma especial importância, pelo incentivo que fazem ao trabalho dos grupos, e pelo acolhimento que prestam aos jovens e às suas iniciativas.
No acompanhamento que a Igreja faz aos jovens, é muito importante saber propor-lhes os valores do Evangelho e o desejo da santidade de forma que eles o aceitem como algo possível e real. Contudo, esta proposta não funciona por indução. Não é suficiente dar-lhes os conteúdos da doutrina e ficar à espera que isso produza efeito. O mais importante é ouvir os jovens, perceber a sua linguagem e quais são as suas realidades, as duas dificuldades, como se relacionam com o mundo, perceber quais são os seus desejos e quais são os seus projetos. E isto requer, da parte dos párocos, dos responsáveis e das comunidades uma grande abertura pastoral. É precisamente no acompanhamento dos seus projetos que podemos ajudar os jovens a encontrar o lugar da fé na sua vida. E isto é transformador. O Papa Bento XVI disse que à fé não se chega «por uma decisão ética ou por uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa» (Deus Caritas Est, 1). E é isto mesmo que a Igreja, as paróquias e os grupos melhor podem oferecer aos jovens de hoje: o encontro com Cristo. Mas para isso, há que criar as condições ideais.
O Papa Francisco, na visita ad limina dos bispos de Portugal em 2015 recordava a necessidade de reavivar a fé batismal de maneira adequada às diferentes etapas e estados da vida e perguntava-se do porquê de, em muitos casos, a juventude abandonar a vida da Igreja: «Não será simplesmente porque, há muito, deixou de lhe servir o vestido da Primeira Comunhão, e mudou-o? É possível que a comunidade cristã insista em vestir-lho?». Por vezes, é esta a nossa tentação: tratar os jovens como “crianças”, e pressupor as suas iniciativas como infantis. Mas isso é um erro. Os novos caminhos da Evangelização devem ser traçados para os jovens e pelos jovens. Muitas vezes se aponta como defeito aos jovens de hoje a falta de iniciativa e a inércia para se envolverem na comunidade. Mas talvez isso seja assim porque nem sempre os responsáveis da pastoral conseguem acolher e dar lugar para as suas iniciativas. Então precisamos de nos perguntar: o que é que entusiasma os jovens hoje? Como podemos, a partir daí, oferecer-lhes a pessoa de Jesus Cristo?
Estou certo de que não há nada mais reconfortante do que encontrar um jovem que vive a sua fé de maneira convicta… um jovem que se converteu, que acredita e camunha na fé e na vida da Igreja “com as suas próprias pernas”. Isso faz rejuvenescer a própria Igreja, mantendo nela a alegria e o espírito da juventude, que em qualquer idade é capaz de vencer o cansaço duma fé dormente.
Ao longo dos últimos anos, na nossa Vigararia, temos vindo a fazer um trabalho de congregação dos jovens. Os jovens precisam de contactar com os seus “pares”, tomar consciência de que a Igreja tem uma dimensão universal, e perceber que uma pessoa com 15, 17, ou 20 anos que vai à missa ao domingo, que reza, que medita a Palavra de Deus e se esforça por ajudar o próximo, não é uma “ave rara”. Os jovens precisam de perceber que há outros jovens que vivem uma espiritualidade cristã como eles.
A realização das Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa, em 2022, será uma grande oportunidade para os jovens e para a Igreja em Portugal, e nós, diocese do Porto, vamos especialmente sentir os benefícios deste grande acontecimento. Acredito que estas JMJ nos vão proporcionar uma belíssima amostra daquilo que é a vivência da fé no nosso tempo entre os jovens de todo o mundo.
(inf: Padre Diogo – Assessor Vicarial Trofa – Vila do Conde)