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COMPREENDO E ACEITO

 

O segredo da felicidade é o amor

Homilia na Bênção dos Finalistas da FAP – 2024

 

*Homilia não lida na íntegra, devido às condições climatéricas

Está aqui, entre vós, uma menina que, há dias, me parou na rua para me perguntar se seria eu a fazer a bênção dos finalistas. No diálogo que travamos, a dado momento, disse-me: “Sabe, senhor bispo? Às vezes é difícil conciliar sentimentos que parecem contraditórios. Estou muito feliz pela quase conclusão dos meus estudos, um Mestrado promissor, e início da vida profissional. Mas também tenho medo. Será que vou ser feliz com o meu curso e vou fazer felizes as outras pessoas?”. Fiquei a pensar nesta brilhante expressão de sentimentos. E estou convencido que, muitos de vós, sentis esta interrogativa.

Ser feliz é a grande questão. Se perguntasse a cada um de vós o que mais espera da vida, com certeza a resposta de seria: “Quero ser feliz”. E se inquirisse os vossos pais, familiares e amigos sobre o que mais desejam para vós, também responderiam: “Que seja feliz!”. Não há dúvida: que se seja feliz é o voto mais íntimo e mais ardentes que se pode formular. E é quanto nós vos desejamos!

Mas não somos só nós. As palavras de Jesus, no Evangelho, também o referiam, embora com outra expressão. Referia Ele: “Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa”. Alegria é sinónimo de felicidade, de vida realizada, de existência com sentido, de uma história pessoal que trilhe as vias da plenitude e não as da negatividade. Sim, Deus quer a vossa alegria; Deus quer a vossa felicidade! Mas esta mesma passagem que referia a tal “alegria completa” que Deus nos promete, mencionava cerca de uma dezena de vezes as palavras amor e amar. Para sublinhar: o segredo da felicidade é o amor! Sim, jovem finalista: o segredo da felicidade é o amor! Grava-o bem!

O mesmo Evangelho gira em torno da grande beleza da vida: Tu és amado. Tu tens capacidade amar. E o amor deve ser levado muito a sério, pois como dizia Paul Beauchamp “quem se abstrai disto, ama o oposto da vida”. Mas que amor?

Para a Igreja, portadora de uma longa sabedoria divina e humana, amor é doação. Amor-doação voltado para o lado, para os irmãos e dirigido para cima, para Deus. Amor é exerceres a tua futura atividade profissional pensando que, por ela, vais suprir muitas carências humanas, colmatar lacunas e dificuldades, enxugar lágrimas e medos, favorecer harmonias e diálogos, contribuir para o desenvolvimento integral da sociedade, apoiar relações intensas e gratificantes, acalentar a esperança, estabelecer a verdade e a justiça, libertar das opressões, tornar a mesa de todos mais farta de pão, gerar maior qualidade de vida, enfim, dar o contributo insubstituível para que as pessoas se humanizem, o mundo se fraternize e a humanidade vença a tirania do materialismo, essa cortina espessa que sufoca porque nos barra os horizontes da luz, da verdadeira liberdade, da plenitude, da eternidade. Amando-nos uns aos outros e a Deus presente em todos. Ou seja, não amando em teoria, na generalidade, mas em concreto. Os outros têm nome e têm rosto, estão todos os dias comigo em casa, na universidade, no trabalho, na rua. Estão nas redes e por onde circula a vida. De perto e de longe. São como eu e, também, muito diferentes de mim. Estão por aí, necessitados de alguma coisa e, fundamentalmente, necessitados de alguém.

Amigas e amigos, os outros, o mundo do qual fazemos parte é que constitui o imenso espelho da felicidade: se o vosso olhar se dirigir para ele, para os outros, a vossa dedicação fá-los felizes e regressa a vós com a mesma felicidade, tal como nos espelhos de vidro que usamos. Pelo contrário, se fixarmos o olhar apenas em nós, nem nos vemos nem nos conhecemos. E não encontramos a felicidade. Portanto, colocai os outros e colocai Deus no centro da vossa existência, não regateeis dedicação ao próximo, não vos canseis de fazer o bem. Essa é a condição de plenitude, de alegria, de felicidade.

Amai como Jesus. Não tanto quanto Jesus, porque nunca chegaríamos lá. Mas como Jesus, isto é, com o seu estilo, a sua forma, o seu modo que não excluiu ninguém, não coloca ninguém à margem, mas sabe acolher no seu coração, servindo a todos sem exceção, mesmo nos seus defeitos, mesmo nas suas imperfeições. Tal como intuía a nossa grande Agustina Bessa-Luís: “Que é amar senão inventar-se a gente noutros gostos e vontades? Perder o sentimento de existir e ser com delícia a condição de outro, com seus erros que nos convencem mais do que a perfeição?”.

Quero dizer isto a todos e a cada um de vós: contai com a Igreja para esta procura. A Igreja é a casa de todos. Todos têm lugar nela. Neste cinquentenário do 25 de Abril, importa dizer-vos que a Igreja é, também, uma casa de liberdade para todos. Para todos, como acentuava o Papa Francisco.

Estamos aqui para a bênção das vossas Pastas e de cada um de vós. A bênção é a força de Deus e a Sua promessa para que a vossa alegria seja completa. Nesta vossa e nossa luta para edificarmos a alegria, a procura de Deus é fundamental. Queridos finalistas, mesmo se no meio de dúvidas, de crises e de desafios que a vida traz, nunca deixeis de procurar Deus. A fé dá-nos sentido para a vida, um sentido de felicidade e de harmonia entre nós, com o mundo e com a história. A fé traduz-se num horizonte de felicidade e de esperança e num compromisso pela paz, da qual bem precisamos.

Caríssimos senhores Reitores, Diretores de Unidades académicas, Professores, investigadores, técnicos, funcionários, caros pais –e, hoje, um abraço especial e  de gratidão a todas as mães!- membros da FAP e da Praxe, familiares e amigos dos finalistas, toda a academia, equipa da pastoral universitária, todos os que nos acompanham pela TVI, um imenso obrigado e nunca se esqueçam que o amor, como dizia Rilke, é a única força que nos impulsiona a sermos melhores. E aqui, na Eucaristia, ficamos substancialmente melhores e maiores, porque aprendemos a amar.

Deus vos abençoe!

+ Manuel Linda 05 de maio de 2024