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COMPREENDO E ACEITO

Dedicação da Catedral – 2022

Exercício da sua maternidade como centro de renovação pastoral

 

Celebramos hoje o aniversário da dedicação exclusiva ao culto divino desta nossa igreja Catedral do Porto. Liturgicamente, trata-se do grau mais elevado: uma solenidade. Note-se que as solenidades, na prática, são reservadas ao culto trinitário, com pouca exceções referentes à bem-aventurada Virgem Santa Maria, S. João Batista, S. José e S. Pedro e S. Paulo.

A ligação da igreja dedicada ao mistério de Cristo está bem presente nas leituras escutadas. Enquanto a primeira, típica do Antigo Testamento, faz a união, fortemente material, entre o templo e a presença de Deus e seus efeitos na vida do crente e da sociedade, a segunda, numa gradualidade bem notória, já fundamenta estas dimensões na pessoa salvífica de Cristo, acentuando mesmo que é dessa forma que o crente se torna “no Espírito Santo, morada de Deus”. E o Evangelho vai ainda mais longe ao garantir que a grande edificação da Igreja é de natureza espiritual: a fé e a adesão amorosa ao “Messias, o Filho de Deus vivo”. É aí que o Céu se interliga com a terra e a terra com Céu: “O que ligares na terra será ligado nos Céus e o que desligares na terra será desligado nos Céus”.

O povo santo de Deus compreendeu isto muito bem. Como forma de exprimir esta realidade, edificou as catedrais quase como antecâmara da beleza sobrenatural. Esta e tantas outras catedrais por essa Europa fora constituem a expressão mais alta daquilo que o génio humano foi capaz de fazer na arte e na cultura estética ao entrelaçar, harmoniosamente, arquitetura, pintura, escultura, música, vitralística, ourivesaria, paramentaria, organaria, arte de trabalhar o ferro, etc., etc. Por isso, não admira que, entre nós, esta Sé seja o monumento mais visitado da cidade e, na Europa, as outras sejam tidas como uma espécie de asas da beleza e da elevação para crentes e não crentes.

Importa, porém, que algum aspeto sectorial, por mais importante que seja, não faça esquecer a sua função para a vida diocesana ou omita a sua qualidade de grande metáfora de um povo enraizado em Cristo e professante convicto da sua messianidade. A catedral há de ser admirada pela beleza e pelo equilíbrio, pela história e pela arte, pelos grandes concertos e exposições. Até, porventura, pela solenidade dos pontificais e momentos marcantes da vida diocesana, tais como a entrada de um novo bispo ou as ordenações sacerdotais. Porém, no dia-a-dia –e não apenas ocasionalmente- a catedral tem de constituir o lugar, o motivo e o espaço da beleza do culto, da contrição dos corações, da construção do homem novo na liberdade e na justiça. Enfim, tem de ser expressão cimeira do nosso dinamismo pastoral e da maternidade da nossa Igreja.

Esta é "a mãe de todas as Igrejas da Diocese", di-lo a liturgia e repetimo-lo nós muitas vezes. Ora, numa situação normal e exceto em casos do particular fragilidade dela, é a mãe quem cuida dos filhos. Este cuidar pode ser somente pela palavra e pelo exemplo, o que não é de somenos importância. Da mesma forma, a nossa Sé tem de se constituir paradigma e modelo de uma pastoral abrangente de situações existenciais distintas, acolhedora das diversas línguas e posições religiosas, ponto de diálogo com os mundos da indiferença e até do ateísmo, «habitação» comum do Povo de Deus da Diocese que aqui se há de “sentir em casa”. Tem de ser padrão para uma pastoral dinâmica e renovada.

Sabemos que por razões sociológicas e outras, as catedrais não costumam ser as igrejas mais frequentadas nem a pastoral que lá se faz é a mais dinâmica. Urge inverter isso. Urge investir em novidade, pois a sua condição de supra-paroquiais permite uma grande flexibilidade. Mesmo sob o ponto de vista da frequência do culto, creio ser possível inverter a tendência da desertificação, pois sabemos bem que, quando uma Igreja ou um agente pastoral se distinguem, por boas ou más razões, as pessoas deslocam-se para lá.

A nossa Catedral não pode constituir, apenas, motivo de orgulho, mais ou menos bairrista, pela sua posição emblemática na cidade, harmonia austera e sinfonia conseguida da interligação entre as várias artes. Precisamos de investir em novidade pastoral. E esta deveria constituir a sua grande caraterística. Aceitam-se ideias novas. E o Cabido, que generosamente vela por este espaço e a quem eu agradeço, certamente saberá acolhe-las e pô-las em prática.

 

 

Manuel Linda, Bispo do Porto 09 de setembro de 2022