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COMPREENDO E ACEITO

 

 

Colocados do lado do Bem em função do bem comum

 

Este momento de oração e a bênção das motos e capacetes que se lhe seguirá constituem, direta ou indiretamente, um conjunto de afirmações eloquentes, que se dizem com palavras e, ainda mais, com os gestos: uma fé, mais expressa ou intuída, que projeta para Deus; o reconhecimento das nossas debilidades e carências e o consequente pedido de ajuda divina; o reconhecimento implícito de que este serviço ao bem comum da sociedade é difícil e, muitas vezes, perigoso, e que, como tal, necessita da proteção do Céu; uma súplica instante pelos falecidos para que encontrem na outra vida aquela plenitude e perfeita felicidade que nenhum de nós encontra nesta; enfim, o fomento do espírito de corpo, tão típico destas forças de segurança, à base de uma das dimensões mais estruturantes dos grupos e da sociedade, como é o caso da religião. Porque também eu acredito em tudo isto, dou-lhes os parabéns por esta vossa iniciativa e manifesto a minha profunda alegria por escolherem esta Catedral do Porto para a realizarem. Sei que o fazem, também, por amizade pessoal ao atual bispo. Saibam que a amizade e a consideração que eu lhes devoto também é muito elevada e paralela à vossa.

Estão aqui, portanto, como cidadãos livres, homens e mulheres que possuem ou não a fé e, no caso positivo, a podem exercer. Mas também estão aqui porque as forças de segurança constituem um dos barómetros mais sensíveis das contradições da sociedade. De facto, sobre vocês vêm desaguar os seus muitos conflitos e dramas, as suas frustrações e fobias. Sim, vocês experimentam diariamente a fúria e agressividade que está a presidir a uma sociedade violenta e, por vezes, desorientada. Procuram desarmar e minimizar essa insatisfação e violência latentes e os seus efeitos destrutivos.  Curiosamente, é nesses momentos que, quase sempre, essa ferocidade se vira contra vocês. E sofrem não só as afrontas das pessoas em situação, mas –o que os fere bem mais- os insultos de tantas notícias falsas e comentários desprimorosos que circulam a todos os níveis. Sim, as notícias a respeito dos bem que realizam não sai na comunicação social. Mas se alguma negatividade cometerem, esse alimenta imensos textos ácidos e acintosos.

Se alguém compreende essa vossa dor, é a Igreja. Não só pela sua especial sensibilidade a tudo o que é humano, mas, particularmente, porque também experimenta isso com muita frequência. E é claro que temos todos sensibilidade e nos ressentimos quando se procura confundir a nuvem com Juno e, a partir de alguns casos individuais de indignidade, que infelizmente também existem, se quer passar a ideia de que toda a organização é criminosa. Coragem! O grande juiz da nossa atuação, para além das normativas que nos regem, é sempre e será a consciência individual. Na fidelidade a ela, podemos ter a certeza, pelo menos subjetiva, de que estamos a proceder bem. E de que a maioria está connosco.

Evidentemente, isso não exclui a obrigatoriedade do esforço de nos tornarmos sempre mais justos e perfeitos. Implicitamente, todas as vezes que nos criticam, está presente uma exigência de que nos liguemos ao bem e fujamos do mal. E isto deve ser levado muito a sério. E até devemos agradecer a quem nos alerta para isso. Oxalá, porém, que quem nos critica dê esse exemplo e toda a sociedade também assim faça.

A vossa elevada função social é ingrata. Vivemos uma época de profunda valorização da liberdade individual. E nem sempre é fácil coordenar as exigências do bem comum de uma sociedade multiétnica, pluralista e de diversas cosmovisões com o exercício das liberdades do cidadão que cada vez mais as reclama como ilimitadas. Depois, entram em jogo aqueles que reclamam segurança e a necessidade de proteção. Conciliar tudo isto nem sempre é fácil. Por isso, na vossa atuação, quanto heroísmo quotidiano! Parabéns!

É precisamente por esta contínua dificuldade e pelo muito que se vos exige no tempo de hoje que vocês invocam o Espírito divino de conselho, sabedoria e fortaleza. No Evangelho que escutamos, falava-se de uma “luz intensa vinda do Céu” que converteu Paulo de perseguidor em grande Apóstolo da verdade sobre Deus. Esta luz haveria de se tornar a força que o sustentou nas viagens, nos trabalhos, nas perseguições, no martírio quotidiano e até na morte violenta. Seja também Jesus Cristo, esta luz de Deus, a força para a vossa atuação criteriosa ao serviço do bem e da paz social. Que Ela se traduza em graças pessoais para cada um de vocês, vossas famílias e forças a que estão ligados. Para as duas polícias aqui presentes –a de Segurança Pública e a Municipal, peço isso por intermédio de São Miguel Arcanjo, vosso padroeiro. Para a Guarda Nacional Republicana, por intermédio de Nossa Senhora do Carmo, aqui venerada como Nossa Senhora da Vandoma, mas sempre a Mãe de Jesus e Mãe de todos nós.

 

 

Manuel Linda, Bispo do Porto 06 de maio de 2022