Deus proteja quem nos protege
Quando, há quatro anos –creio- dois ou três polícias amigos me pediram para proceder à bênção das suas pessoas, bem como dos seus instrumentos de trabalho, as suas motos, estava longe de imaginar que se trataria de um gesto destinado a crescer de ano para ano. Cresceu a partir da base, embora logo acarinhado pelas cúpulas da PSP. E juntaram-se várias outras instituições da área da segurança e, inclusivamente, dos vários clubes motards. O que é saudável, pois revela proximidade e boa relação entre a sociedade e quem lhe garante segurança e defesa da vida e dos bens.
Por isso, tem sido com muita alegria que acedi e acedo à realização desta cerimónia, mais tarde acrescentada com a celebração da Missa de invocação da assistência divina para quem, por trabalho ou diversão, usa estes veículos de duas rodas, sempre perigosos. E também porque nos permite interceder pelos camaradas defuntos que vão deixando esta vida e entrando na plenitude da eternidade.
Este é o único ato de culto a que tenho presidido no contexto das Forças Armadas e das Forças de Segurança, setor ao qual me liga grata recordação, elevadíssima estima e profunda amizade. Se esta celebração fosse de natureza institucional, promovida pela Direção Nacional ou pelo Comando Metropolitano, uma daquelas a que a tradição já nos habituou, então remetê-la-ia para o senhor D. Rui Valério. Mas aqui –e só aqui- verifica-se o espírito e a letra da criação do Ordinariato Castrense para Portugal: a dupla pertença dos católicos portadores de condição militar ou policial que lhes permite formar e celebrar a sua fé no âmbito das capelanias castrenses ou, igualmente, nas estruturas diocesanas.
Esta cerimónia religiosa constitui, para mim, oportunidade para lhes dar os parabéns pela maneira tão elevada como têm garantido a segurança, a tranquilidade e a paz social. Mas também para lhes dirigir um forte apelo. Que é este: continuem! Não desanimem! Muita força moral! Sabemos que são continuamente observados a partir de lentes que só querem descobrir o negativo para, com isso, alimentar as redes sociais e outros meios, pela crítica azeda. Falhas, enganos, negatividades podem acontecer sempre, pois somos humanos. Porém, no esforço pessoal e com a ajuda divina que agora invoco, o que importa é ir limitando esses desacertos ao mínimo, até se extinguirem por completo.
Permitam-me, agora, uma palavrinha muito simples de natureza religiosa, a partir das leituras que escutamos. Na primeira, apresentava-se uma homilia típica dos primeiros tempos do cristianismo: o Apóstolo Pedro enuncia a verdade central da fé cristã que consiste no conhecimento da morte inocente de Cristo e na certeza da sua ressurreição. E isto remete-nos imediatamente para o mundo da injustiça e da violência: Aquele que passou a vida a fazer o bem é tratado como malfeitor entre os malfeitores, objeto da fúria popular e espezinhado com violência total e gratuita. E isto choca-nos profundamente. Mas, ao mesmo tempo, desperta em nós um sentido de simpatia e comiseração: estamos do lado do inocente, sofremos com Ele. E nisto se enraíza a fé. Fé que passa também por fazer o que Ele fez e proceder como Ele procedeu. Por isso, pôde dizer: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, como nos apresenta o Evangelho. Caminho que, nos grandes valores éticos, não nos deixa desviar das atitudes sensatas; verdade que evita os enganos a respeito do que convém ou não ao nosso humanismo; vida feliz, realizada e com sentido.
Caras amigas e caros amigos, em nome das mulheres e dos homens que habitam esta extensa área geográfica de vinte e nove concelhos civis abrangidos por esta Diocese do Porto, digo-lhes que estamos convosco, que precisamos de vós e vos agradecemos o vosso inegável contributo para a tranquilidade e segurança que gozamos. O Bispo do Porto está convosco. Deus vos abençoe e vos proteja.
Manuel Linda, Bispo do Porto 05 de maio de 2023