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Senhora do Bom Despacho – 2024

Cristãos e marianos

 

Nas pessoas das suas autoridades autárquicas, nos representantes das instituição civis que tornam mais andáveis os caminhos da vida, no seu novo Pároco e em quantos com ele colaboram a bem desta Paróquia e nos tantos cristãos que aqui celebram a fé, a Maia reúne-se para cumprimentar a Senhora e pedir o seu Bom Despacho de alegria e esperança. Sim, fazemos de Maria o centro e a razão de ser destas festas concelhias. E nela e com ela, damos largas ao convívio, sorrimos uns aos outros, caminhamos em família, fazemos intervalo nas preocupações do dia-a-dia, vestimos o fato novo, sinal de elegância social e espiritual, enfim, fazemos festa.

Neste dia, para além da procissão, ocupa lugar cimeiro esta celebração da Eucaristia, memorial do Senhor ressuscitado. Isto é, celebramos a Virgem Santa Maria celebrando o seu Filho. E não podia ser de outra forma. Se, no dizer de São Paulo VI, somos cristãos porque somos marianos (cf. MM) quer dizer que entre nós, Jesus e a sua Mãe há um vínculo tão estreito como já existia entre essa Mãe e o seu Filho. Daqui que a devoção à Senhora não nos afasta do único Salvador, mas vincula-nos a essa intimidade familiar que une Jesus e Maria.

Isso remete-nos para o amor. Qualquer nascimento é fruto do amor e cria um laço tal entre o nascido e quem o deu à luz que se torna indestrutível. Para sempre. Ora, nós os cristãos nascemos do amor d’Aquele que nos deu tudo, incluindo o sangue e a vida. Mas também d’Aquela que permaneceu no Cenáculo, no meio dos discípulos do seu Filho, enquanto o Espírito do Pentecostes não veio dar início à Igreja e fazer deles missionários da Boa Nova. Nascemos do amor. De um amor duplo. E quem nasce do amor sente necessidade de estar com o amor. Assim acontece na família humana. Assim acontece com esta celebração que se torna, para nós, uma verdadeira necessidade: a do contacto estreito com esses dois amores dos quais nem queremos nem podemos desligar-nos. Manter-se no amor é, portanto, a própria condição cristã.

Evidentemente, neste clima de muita intimidade e confiança, também fazemos pedidos ao Filho e à Mãe. Pedimos-lhes, por exemplo, o dom da paz. Neste tempo feroz de guerras e destruições totais, de mortes de inocentes e de uso prolongado da terrível arma da fome, de ameaças a todo o planeta e de o cobrir com nuvens negras que escondem o futuro da humanidade, outra coisa não poderíamos pedir que não seja: Senhora do Bom Despacho, ordenai o despacho da paz.

Pedimos também o dom da esperança, hoje tão arredia do nosso mundo. Talvez a começar por nós mesmos que imaginamos que os nossos problemas são maiores que os dos outros ou que não temos força para os resolver, entrando, assim, na depressão e no desânimo. Vejamos o que se passa à nossa volta: há tantos e tantos que vivem na desilusão, pois parece que, para eles, não há futuro. Como diz o Papa Francisco na Bula que proclama o Jubileu de 2025, a “imprevisibilidade do futuro faz surgir sentimentos por vezes contrapostos: da confiança ao medo, da serenidade ao desânimo, da certeza à dúvida. Muitas vezes encontramos pessoas desanimadas que olham, com ceticismo e pessimismo, para o futuro, como se nada lhes pudesse proporcionar felicidade”. Temo-los presentes nesta nossa súplica.

E não nos esquecemos da fé e da estrutura que a recebe, vive e celebra: a Igreja. Sabemos que uma enorme quantidade de pessoas vivem como se Deus não existisse. E que até se sentem ofendidos por se pregar o nome do Senhor Jesus. Ora, é precisamente para esse mundo que o Senhor nos envia, tal como enviou os seus discípulos, segundo a passagem do Evangelho que escutamos. Envia-os livres de tudo o que os poderia deter, como o profeta Amós, de quem falava a primeira leitura. Mas, mesmo assim, alerta-os para a possibilidade de não serem bem recebidos. Nesse caso, deverão sacudir até o pó das sandálias, pois é sempre em liberdade que se prega a fé. Do mesmo modo que hoje: temos de ser missionários no nosso meio. Se alguns não escutarem nem aderirem, nem por isso desanimamos, pois fizemos a nossa parte.

Irmãs e irmãos, é para Jesus, por intercessão da Senhora do Bom Despacho, que “se elevam as nossas súplicas, implorando com maior fervor e confiança as suas graças e os seus favores. […] Ela que experimentou as penas e as tribulações da terra, o cansaço do trabalho de cada dia, os incômodos e os apertos da pobreza, as dores do Calvário, venha em socorro das necessidades da Igreja e do mundo; acolha benigna os pedidos de paz que a ela sobem de todos os pontos da terra; ilumine os que dirigem a sorte dos povos; […] acalme também as tempestades dos corações humanos em guerra e "dê a paz aos nossos dias" (MM). E também despache, em nosso favor, o dom da saúde, da alegria e da esperança.

 

Manuel Linda, Bispo do Porto