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COMPREENDO E ACEITO

 

Para uma cultura do encontro

Dia dos Consagrados e da Universidade Católica

 

 

Hoje é o dia da apresentação do Senhor no templo. Os cristãos orientais designam esta celebração por “Festa do Encontro”. E com certa razão, porque o Menino Jesus, um bebé de quarenta dias de vida, dá o primeiro passo para ir ao encontro do seu povo. No Natal, ricos e pobres tinham ido ao encontro d’Ele: os magos, os pastores e certamente outras pessoas de Belém. Agora, nesta festa, é Jesus quem deixa o local onde estava e parte para Jerusalém. Aí se encontra com poucas pessoas: com o velho Simeão, com a profetisa Ana e com um ou outro sacerdote de serviço nesse dia. Encontra-se ou deixa-se encontrar, pois certamente muitos terão olhado para aquele bebé, em tudo igual aos outros, mas não O reconheceram como o Messias em Quem se havia de cumprir a esperança de Israel. De facto, o texto do Evangelho diz que só Simeão, descrito como simples “homem justo e piedoso”, e Ana, uma pobre viúva de oitenta e quatro anos, é que identificaram o Salvador. Os outros viram, mas sem ver. Não tocaram o mistério.

Que nos diz isto a nós, mormente às Consagradas e aos Consagrados e à Universidade Católica Portuguesa, pois todos celebram hoje o seu “Dia”?

Simeão recebeu Jesus ao seu colo. O seu olhar fixou-se n’Aquele que ele, movido pelo Espírito Santo, descobriu como o próprio Filho de Deus. Fixou-se em Deus e não nos seus braços, nos seus membros, parte de si mesmo. Soube acolher Jesus com imensa ternura, firmar nele o seu olhar e obter aí a plenitude da felicidade e da esperança. Por isso ousou dizer aquilo que nós, porventura, não diríamos: “Agora, Senhor, podeis deixar partir [para a eternidade] o vosso servo em paz”.

Quem não vê Jesus, vê apenas a sua nudez pessoal, a sua finitude, porventura a sua tristeza existencial. Isto é válido para os Consagrados e para a Universidade. O Tentador, procura desviar o nosso olhar de Jesus para que apenas nos vejamos a nós mesmos. Nesse caso, o que vemos são as nossas mãos vazias que motivam perguntas tais como: será que isto vale a pena?; será que dou alguma coisa de válido ao mundo?; porquê tanta dedicação e tantos cuidados se, ao fim e ao cabo, nem sequer sou agradecido?; justifica-se cultivar e viver altos valores e profunda doação quando o mundo segue por vias antagónicas? E muitas mais questões. Mas isto é a tentação, o contrário da descoberta da salvação. O olhar de tentação vê apenas as nossas mãos vazias; o olhar de salvação descobre Jesus e o bem silencioso onde os outros o não veem.

Refletindo nisto, a partir do exemplo de Simeão, o Papa Francisco garante: “Quem mantém o olhar fixo em Jesus apreende a viver para servir”. É que no olhar de Jesus já está presente a atividade da sua futura vida pública. De facto, Jesus não esperou que os outros viessem ter com Ele, mas foi ao encontro de todos; não fez prodígios e milagres em favor dos seus, mas privilegiou os pobres e humildes, como já estava predito pelo profeta Isaías; não viveu para os seus êxitos pessoais, mas ousou dizer a quem o quisesse servir que quem não tomasse a sua cruz não seria digno d’Ele; não conquistou um lugar na sociedade a partir dos de cima da escala social, mas precisamente a partir dos de baixo, das “ovelhas perdidas da casa de Israel”.

Ora, aqui temos as razões que credibilizam Consagrados e Universidade. Os Religiosos estão no mundo para servir a todos, mas sem se esquecerem que, tal como Jesus, a Igreja cultiva uma opção preferencial pelos pobres. Não exclusiva, mas preferencial, pois se não pudemos fazer tudo, comecemos por ir ao encontro daqueles a quem ninguém vai ao encontro. Quanto à Universidade Católica, admitindo que só pelo facto de existir já constitui um grito de liberdade face aos centralismos que outra coisa não conhecem que não seja o pensamento único e desconstrutivista, também ela tem de servir. Fundamentalmente, servir a verdade, o que supõe desarmadilhar culturas anti-humanas, e servir a sociedade com técnicos cientificamente competentes, mas não menos com humanistas com fortíssima motivação para o bem-comum. Diria mesmo: a Universidade Católica só serve se educar os seus alunos para a generosidade e amor social –a macro-caridade-, para antepor o bem dos outros aos seus próprios interesses.

Quero publicamente agradecer o bem que chega à nossa cidade, Diocese e região por intermédio dos Religiosos e da Católica. Aqueles e esta constituem-se como fatores de encontro. Desde logo, encontro de dois mundos, o religioso e o laico, pois faz-lhe o bem sem pedir o certificado de prática religiosa. Depois, o encontro de idades. Tal como o bebé Jesus passa para o colo do velho Simeão e da octogenária Ana, também os Religiosos e a Universidade servem todas as idades e, no caso dos primeiros, até se dedicam fundamentalmente à infância e à velhice. Além disso, no dia de hoje encontram-se duas luzes: as múltiplas do Natal e as velas benzidas neste dia da Candelária para dar expressão plástica à certeza de Simeão de que Jesus é a “luz para se revelar às nações”, a luz que separa a noite das mentes da alvura da verdade. E fazer luz é a meta última dos Religiosos e da Universidade Católica. Enfim, hoje encontram-se dois mundos ou duas culturas: o particularismo e a abertura universal. Simeão põe isso em relevo quando refere Cristo como “luz das nações e glória de Israel”. Sem excluir ninguém, fazer passar do particularismo a uma cultura católica, isto é, universal, é a grandeza dos Consagrados e da Academia.

Por tudo isto, os meus parabéns a quantos fazem da sua vida uma consagração exclusiva a Deus e aos irmãos e a quantos investigam a verdade da pessoa humana, condição de uma humanidade de braços abertos e fraterna. E peço aos fiéis leigos que tenham muito apreço por uns e por outros e os ajudem, mesmo financeiramente.

 

 

+ Manuel Linda 2 de fevereiro de 2025