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COMPREENDO E ACEITO

 

 

A ajuda de Deus e o nosso compromisso

Homilia na bênção dos capacetes de 2025

 

 

Sei bem que vocês gostam mais da ação do que de discursos. Não obstante, decerto, esperam umas palavras de simpatia e de enquadramento desta celebração.

Como saberão, esta já tradicional celebração começou, há alguns anos, a pedido de um clube de motards, vários dos quais também eram e são polícias. Depois, alargou-se a outros clubes e, fundamentalmente, a quem usa a moto como instrumento de trabalho ao serviço dos outros: PSP que a assumiu a partir do próprio Comando Metropolitano do Porto, a GNR, o INEM e, até outras instituições. Por mim, acho umabelíssima iniciativa e sinto muita honra em colaborar com ela. Fundamentalmente, pela admiração que tenho pelas Forças de Segurança e de Socorro e também pelos vários Clubes Motards que até já me presentearam com agradáveis surpresas.

Uns e outros sabem bem que o uso da moto lhes proporciona um sentido profundo de liberdade e de adrenalina, de convívio e conquista de novas amizades, mas que também não deixa de ter os seus perigos. Ora, a bênção é sempre a tomada de consciência disso mesmo e o compromisso de assumir a segurança própria e dos outros como envolvência geral de todo o motociclismo. E no que já não depende de nós, pede-se a ajuda divina. Pede-se o domínio da moto que se conduz e que não intervenham causas externas que geram o acidente e a desgraça. Mas pede-se ainda um outro domínio: o de cada um sobre si mesmo, para que nunca se deixe vencer pelo mal, mas que o vença praticando sempre e apenas o bem. Pede-se, pois, uma duplaproteção: a fuga do perigo e a força interior para vencer o mal com o bem.

Por isto, a bênção das motos é uma ocasião significativa para a comunidade motard. De facto, alia-se tradição, espiritualidade, paixão pelas duas rodas, convívio e festa, além de reafirmar a importância de viajar com segurança e o respeito pelos outros utentes da estrada. Por vezes, sucede que até propicia um bom motivo para refletir sobre a vida. É o que diz um sacerdote italiano, motard dos cinco costados e aficionado por tudo o que tenha a ver com desporto, e agora padre. Li, há tempos, uma entrevista dele. O título que o jornalista pôs é uma frase dita por este Padre, de nomeFilippo: “Por vezes, é preciso um depósito inteiro de gasolina para nos encontrarmosa nós mesmos”. Referia-se à sua própria experiência de ser em cima da sua moto que se descobriu e descobriu o que Deus tinha guardado para ele: ser padre.

Obviamente, não será todos os dias que se descobre o sentido da vida por cima do selim da moto. Mas o silêncio experimentado na viagem e o contacto direto com a natureza e seus elementos favorecem a intimidade e a espiritualidade. E, nestas, surgem as grandes perguntas da existência: vivo só para mim ou para os outros?; sou feliz sozinho ou sinto-me bem apenas quando faço os outros felizes?; qual o sentido da minha agitação e do meu trabalho?; recebo da sociedade e também lhe dou algo?; nesta permuta, sou credor ou devedor?; não precisarei de afinar o azimute na direção dos outros, especialmente no campo da família e do trabalho?; os meus olhos também se voltam para as alturas de Deus ou permanecem voltados e colados à terra?

No que às Forças de Segurança e de Socorro diz respeito, sei bem do seu empenho e concretização de um extraordinário serviço à sociedade em favor das pessoas e bens, da paz e da liberdade, um serviço efetivo e de grande qualidade humanística. Num mundo com alguma desestruturação e forte pendor individualista que pode chegar a chamar bem ao que é mal puro, o vosso trabalho é de uma importância primordial. Ora, sei que nem sempre possuem as melhores condições para o realizarem e até são contestados por alguns. No que a mim diz respeito e, estou em crer, no sentir da enorme maioria da comunidade nacional, quero exprimir o meu profundo respeito pelo que fazem, agradecer-vos a dedicação e pedir-vos que nunca se cansem de fazer o bem. Que Deus vos conceda muita força para isso.

Como saberão, nós, na Igreja católica, estamos a viver um ano jubilar. Vivemos em júbilo ou jubileu porque, há 2025 anos, Deus se tornou tão próximo de nós que se fez homem no meio da humanidade. E mesmo depois de O terem morto com uma pena de morte horrorosa –a crucifixão- Ele continua connosco como o melhor Amigo, porque ressuscitou glorioso. Isto é, Ele está vivo e acompanha-nos no nosso peregrinar neste mundo em direção às alturas da felicidade e do bem total. No dia 20 de setembro próximo, muitos milhares de nós, cristãos de toda a Diocese do Porto, vamos a Fátima, a casa da Mãe do céu, em clima de muita esperança, para assinalarmos este ano do jubileu na espiritualidade, na alegria do encontro com Deus e com os irmãos e para tomarmos consciência de que, se precisamos das coisas da terra para a nossa vida, não menos temos falta das coisas do Alto para uma existência realizada e feliz. É que nós temos necessidade de alimento da alma, tal como do do corpo. Era o que nos dizia o Evangelho de hoje: Jesus deu o pão da refeição, mas também o Pão da Eucaristia. Se quiserem e puderem, seria para nós uma honra contar com a participação dos vários clubes motards presentes na área da Diocese.

Termino aqui. Apelo à prudência e ao autodomínio. Mas também apelo àamizade e ao compromisso de caminharmos juntos num mundo cada vez mais conflituoso. Caminhar juntos para fazer felizes os outros, condição da nossa felicidade neste mundo, e caminhar juntos na direção do Alto, pois a verdadeira e maior meta da nossa existência está numa plenitude a que chamamos vida eterna.

Para vós, vossas famílias, colegas de trabalho, para as vossas intenções e necessidades e para os amigos já defuntos que queremos agora recordar, invoco a graça de Deus. Ele vos abençoe e vos proteja.

 

 

+ Manuel Linda 2 de maio de 2025