Homilia na Peregrinação Diocesana Jubilar a Fátima
Com Maria, somos um Porto peregrino. Abrir caminhos de futuro e de esperança.
1. Somos um Porto peregrino
Somos um Porto peregrino. Somos um Povo que caminha, na esperança dos novos céus e da nova terra. E como é graciosa esta visão da multidão dos fiéis, reunida em Cristo, como um só Povo, unido na diversidade das proveniências, das comunidades eclesiais, das paróquias, movimentos e associações. Com esta peregrinação jubilar, damos um sinal claro: queremos ser um Porto peregrino, um Povo de Deus que não se instala, que se põe a caminho, pelas vias da esperança. Maria indica-nos o caminho, conduz-nos e reconduz-nos a Jesus, nossa única Esperança. O Porto, «Cidade da Virgem», vem em Peregrinação Diocesana a Fátima e sente-se feliz na Casa da Mãe, como em sua própria casa!
Quanto eu saiba, esta é a terceira peregrinação diocesana a Fátima. A primeira foi nos anos sessenta e a segunda aconteceu há precisamente oito anos, para agradecer os frutos espirituais da visita da imagem peregrina à Diocese. Foi o coroar de um tempo maravilhoso de fé e devoção. Porém, a de hoje, para além de assinalar coletivamente o jubileu deste ano de 2025, não pretende ser um fim, mas um início, um arranque a toda a força para algo de novo e de belo que está à nossa frente. Pretende marcar um antes e um depois da nossa Diocese, assente no ritmo conciliar e sinodal e na sua consonância com o nosso tempo e cultura.
2. Uma Igreja sinodal missionária
Não chegámos aqui desgarrados, solitários. Não. Caminhámos, cantámos, e rezámos. Caminhar juntos é o que define, no essencial, uma Igreja conciliar e sinodal. Sim. Mas o que é isso de uma Igreja conciliar e sinodal? Dito de modo simples, é uma Igreja ao serviço do Reino de Deus, em que todos caminham juntos e todos colocam ao serviço de todos os seus carismas e ministérios: juntos na escuta da Palavra de Deus e da vida, juntos na celebração da Eucaristia e dos Sacramentos, juntos no testemunho da caridade, juntos no desejo de anunciar Cristo e de O levar aos outros, juntos na comum responsabilidade da organização e dos serviços. Só assim é que podemos ouvir e discernir o que o Espírito nos tem a dizer e dar lugar a que todos se sintam escutados, envolvidos e responsabilizados.
Este é já o objetivo cimeiro e primeiro do nosso Plano Pastoral, para este triénio de 2025 a 2028: «envolvermos todos e desenvolvermos juntos percursos e recursos para a implementação de uma Igreja sinodal» (PDP 2025-2028, I,1). Nesta fase, somos desafiados a experimentar, a afinar ou a reforçar as práticas de escuta, de diálogo, de partilha das ideias e dos dons, sempre com esta finalidade missionária: que Cristo seja anunciado, celebrado, vivido e oferecido a todos!
3. À imagem de Maria
Para este percurso, temos um modelo: a virgem nossa Senhora. «Na Virgem Maria, vemos resplandecer, em plena luz, os traços de uma Igreja sinodal, missionária e misericordiosa. Maria é, de facto, a figura da Igreja que escuta, reza, medita, dialoga, acompanha, discerne, decide e age” (DF 29). São muitos os verbos sinodais! Convido-vos a aprendermos de Maria a crescermos juntos como Igreja Sinodal, destacando apenas três atitudes, tão marianas quanto sinodais:
Primeira: uma Igreja conciliar e sinodal é uma Igreja que escuta. A Mãe de Jesus é proclamada bem-aventurada precisamente “por ouvir a Palavra de Deus e a pôr em prática” (Lc 11,28). A escuta é a primeira dimensão a desenvolver na Igreja: escuta de Deus e da sua Palavra, escuta dos outros e da realidade que nos interpela. Não para uma mera consulta ou sondagem de opiniões, para impor ideias próprias ou seguir o pensamento da moda. Não. O seu objetivo, na Igreja, é o de buscarmos juntos, como Maria, a vontade de Deuspara a pormos em prática!
Segunda: a Igreja deste tempo procura discernir o que o Espírito Santo lhe tem a dizer. Maria interrogava-se «como será isto»? (Lc 1,34), guardava e «ponderava todas as coisas em seu coração» (cf. Lc 2, 19.51). No silêncio da oração e do coração, Maria medita, pondera, dialoga, pesa, mede, avalia, considera todas as coisas, palavras e acontecimentos, sentimentos e desejos, para os situar em conformidade com a vontade de Deus.
Terceira: uma Igreja sinodal decide e age. Maria não se fica pela escuta e meditação. Ela decide o seu «sim» e imediatamente põe-Se a caminho, em ação, para partilhar o dom mais precioso que recebera: o seu Filho Jesus. De Maria, aprendemos a ser Igreja em saída, missionária e não enredada em estéreis e intermináveis discussões. Tenhamos sempre nos pés a pressa da missão!
4. Abrir caminhos de Esperança
Irmãos e irmãs, o Deus de Jesus Cristo faz novas todas as coisas (Ap 21,5). Ele abre-nos clarões de esperança, quando o mal parece vencer (cf. Gn, 3,15) e o desânimo imperar! Este Jubileu interpela-nos a avançarmos juntos, “por caminhos de esperança”, optando por aquilo que tem futuro. O Espírito Santo impulsiona-nos a sermos instrumentos ativos da mudança que Deus sonha para a Igreja do Porto: “uma Igreja mais missionária, centrada unicamente no anúncio alegre e feliz do Evangelho, na celebração digna e festiva dos mistérios de Cristo e na vivência apaixonada e contagiante de Cristo, em palavras de esperança e em gestos de amor” (PDP 2025-2028, Pórtico, 2).
Mas como torná-lo realidade concreta? Para isto, é necessário refletir muito e pormo-nos de acordo. Todos os diocesanos! Como tal, pessoalmente, julgo que está na hora de convocar um Sínodo Diocesano como uma dimensão pastoral global, sem desprezar a própria assistência e guia futura das comunidades. Não tenhamos dúvida: dentro de uma década, o clero diocesano baixará imensamente. Como assegurar os sacramentos, a organização das comunidades e a atividade sócio caritativa representada, por exemplo, pelos Centros Sociais Paroquiais? Esta é uma urgência. Não para amanhã; era já para ontem.
Parece que, desde o século XVII, isto é, há trezentos ou quatrocentos anos, não mais se realizou um Sínodo Diocesano no Porto. Eu não o imporei. Mas gostava muito de, nos próximos meses, ter eco, receber o sentir das pessoas e organismos sobre a sua necessidade e possibilidade. E o impulso, o incentivo e o compromisso para o lançarmos. Como já disse, penso que é urgente a sua realização. E para vocês, caros cristãos? Como diria o Senhor Jesus, para tempos novos, odres novos e vestidos novos. Por amor de Deus, façam-me chegar o vosso discernimento.
5. Sob a guia, a proteção e a companhia de Maria
Caros diocesanos e peregrinos, à Virgem Maria confiemos o bom êxito deste Jubileu: a graça da nossa conversão pessoal e vital ao Evangelho. A Maria, aqui invocada como Nossa Senhora do Rosário de Fátima, confiemos o futuro da nossa Diocese que tem de ser sinodal e até pode ser antevisto e programado com a realização de um Sínodo. Ela nos ensine a ser um Porto peregrino, sempre a abrir caminhos de esperança! Ámen.
+ Manuel Linda 20 de setembro de 2025