Homilia no funeral de Diogo Jota e André Silva
“Solidariedade no amor que é mais forte do que a morte”
Queridos Dinis, Duarte e Mafalda, vós não sabeis quem sou e eu também não vos conheço pessoalmente. Mas sei que, neste momento, sofreis imensamente. Ou talvez não, porque nem vos dais conta da tragédia que se abateu sobre a vossa família. Vireis a tomar consciência mais tarde. E vai ser terrível. Mas eu vou rezar muito a Jesus por vós.
Quem sofre imenso é a vossa mãe, a D. Rute. Ela tem o coração partido! Igualmente, os vossos avós, a D. Isabel e o senhor Joaquim e demais membros da vossa família. Ver à sua frente uma urna com os restos mortais de um filho deve ser o tormento máximo. Mas quando não é apenas uma urna e são duas, de dois irmãos… não há palavras. E aqui estão as urnas com o que resta do vosso pai Diogo e do vosso tio André.
Não há palavras, mas há sentimentos. Nós estamos aqui, além do mais, para vos dizer que também sofremos muito com este acontecimento. E que queremos retirar um pouco da vossa dor. Por isso, estamos afetivamente convosco. Isso leva-nos a gestos e atitudes: proximidade, afagos, silêncios e também lágrimas e orações. Sim, lágrimas! É humano! Mal de nós se tivéssemos o coração tão duro que não chorasse quando o dos outros choram, que ficasse insensível quando o coração dos outros está todo partido.
Nesta oração que estamos a fazer, a que nós chamamos Missa, acabamos de escutar uma leitura que nos dizia que Jesus, um dia, também foi confrontado com uma situação semelhante. Tinha morrido um grande amigo d’Ele, chamado Lázaro. E que é que Jesus fez? Foi dar os pêsames à família, tal como nós. E aproximou-se de Lázaro, aquele morto com quem Jesus privara. Recordou a sua amizade e os momentos passados juntos. E, como dizia o Evangelho, comoveu-se e chorou. É o aspeto humano. Mas Jesus não ficou por aqui. Também rezou! E ressuscitou-o. Isto é, deu-lhe a vida novamente. Ora, é isto que nós pedimos agora, para o vosso pai e vosso tio, nesta oração. Não pedimos uma vida biológica, novamente. Mas uma vida maior e melhor: a vida nova. Esta vida nova é o mesmo que felicidade plena, vida eterna, Paraíso, Céu.
Eu sei que não é fácil conceber essa vida eterna. Mas acreditamos nela: é um dos fundamentos da nossa fé. Não é pelo facto de não compreendermos que essa vida nova não existe. Querei ver? Quando estávamos no ventre da nossa mãe, nem sequer imaginávamos como seria o mundo, depois do nosso nascimento. E agora, todos nós preferimos viver neste mundo de luz e de coisas belas do que voltar ao ventre da nossa mãe. Do mesmo modo, porque não conhecemos o Céu, parece que só gostamos da vida aqui no mundo. Mas se soubéssemos a beleza do Céu, nós é que queríamos ir para lá.
Então, estamos aqui por duas razões: por uma solidariedade no amor, mais forte do que a morte; mas também para que a nossa fé em Deus obtenha d’Ele a tal vida nova e bela para estes dois defuntos e que também nós não nos afundemos no desânimo e na completa negrura da noite. Que tenhamos fé e esperança. É que Jesus garante-nos que Ele mesmo é a ressurreição e a vida nova. E que aqueles que creem, mesmo sujeitos à morte corporal, não estarão sujeitos à morte eterna, porque a sua comunhão de vida com Cristo nunca será quebrada nem destruída.
Esta comunhão de vida faz-se pelo batismo e pelas boas obras. O vosso pai, o Diogo, foi batizado logo quase dois meses depois de nascer. E o vosso tio André, precisamente um mês depois do nascimento. Isto porque os vossos avós, gente simples, mas de fé, quiseram inseri-los nesta vida nova de Jesus. E o Diogo e o André, em total liberdade, também quiseram assumir esta fé. Dou só um exemplo: o vosso pai casou catolicamente na igreja de Nossa Senhora da Lapa, no Porto, onze dias antes de falecer, e o vosso tio foi crismado na Sé do Porto em 2017.
Quanto às boas obras, ambos subiram na vida pelo seu esforço. Não olharam a sacrifícios para atingirem os seus objetivos. O vosso tio André, por exemplo, conciliou os treinos com uma Licenciatura em Gestão. Foram pessoas abnegadas. Mas respeitando sempre o semelhante. Quer um quer o outro se podem classificar como pessoas discretas e tranquilas fora do campo, dedicadas aos outros e com grande capacidade de trabalho. Por isso, pessoas extraordinárias, sérias e responsáveis. E de fé, como já tinha dito.
São pessoas muito conhecidas por causa do desporto, para o qual revelaram especial aptidão. Ora, a Igreja gosta do desporto. No caso do futebol, até foi uma grande promotora. É que sabe que ele tem um enorme potencial para agregar e construir pontes entre pessoas diferentes. Desde que praticado com ética, é um espaço onde se cruzamgrandes valores: disciplina, trabalho em equipa, superação pessoal, respeito pelo outro, alegria, convívio, promoção da paz e o entendimento mútuo, etc.
Queridos Dinis, Duarte e Mafalda, falei-vos a vós porque, se é triste ver um adulto chorar, muito mais custa quando se trata de uma criança e quando o motivo é este. Mas falei-vos também porque o grande Amigo que é Jesus disse que quem não for sensível como vós, não pode entrar no Reino dos Céus. Mando-vos um especial cumprimento pela vossa mãe, pelos vossos avós e demais familiares. Estou convosco. Jesus também está convosco para vos ajudar a passar este momento muito duro. E o vosso pai e tio estão com Jesus, na tal vida nova de felicidade e de paz. Que Ele nos dê a todos o conforto da fé e da esperança. E que Maria Santíssima, a Senhora do Rosário, aqui de Gondomar, e a Senhora da Lapa, onde os vossos pais casaram, interceda por todos.
+ Manuel Linda 5 de julho de 2025