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No final da procissão do Corpo de Deus

Transformados n’Ele para transformar a sociedade

 

 

No final desta procissão do Corpo de Deus, com tão grande tradição, desejo manifestar a minha alegria pela participação de todos. E agradecer: agradecer ao Cabido da nossa Sé que a organizou; às Excelentíssimas autoridades e representantes de tantos organismos sociais que, desta forma, como que os incorparam nela; aos fiéis de todas as idades que sabem que a fé exige certas linguagens, uma das quais é esta, a da manifestação pública, na oração e na alegria.

De facto, para nós católicos, hoje é o dia de colocar o Pão da Vida no centro do mundo, da nossa Diocese, da nossa cidade, das famílias e até da existência de cada um de nós. De O colocar bem no centro das nossas relações sociais. Porque esse é um Pão que, ao ser repartido, não fragmenta nem separa, mas gera a unidade dos comensais.Gera humanismo e elevação. A este propósito, hoje de manhã, citei uma frase de Santo Agostinho, esse intelectual brilhantíssimo que procurava a verdade deste sacramento da Eucaristia e que, segundo ele refere, terá ouvido a voz de Deus que lhe explicava o que tanto queria entender: Eu sou o alimento dos fortes. Tu não me transformarás em ti, como ao alimento do corpo. Mas serás tu a seres transformado em Mim!”.

Porque a sociedade é formada por todos, ao sermos transformados n’Ele, é também a sociedade que é transformada. Evidentemente, para melhor. Sociedade de fraternidade, de relações mais sadias, de justiça social, preocupada com as debilidades de sempre e com as muitas que surgem todos os dias, atenta às fragilidades de quem não consegue acompanhar o ritmo social, acolhedora das diversidades, integradora dos migrantes e refugiados, fomentadora da harmonia familiar, etc. Enfim, sociedade de diálogo, condição básica da democracia. É que a democracia, na qual apostamos totalmente, correria o risco de implosão se lhe extraírem os valores que lhe dão consistência. Uma democracia sem valores éticos seria mero formalismo, uma espécie de balão de ar quente que cairia estrondosamente no chão após o arrefecimento do seu interior. Valores e diálogo são, de facto, o oxigénio da sociedade democrática.

Caminhamos com Jesus e atrás de Jesus. Não sozinhos, mas em conjunto, em união de marcha e de meta. Seguimos pelas mesmas ruas, entoamos os mesmos cânticos, balbuciamos as mesmas orações, guardamos os silêncios em conjunto. Vivemos uma experiência de fraternidade porque já estamos acostumados a alimentar-nos do Corpo e Sangue d’Aquele que nos junta à sua mesa. Assim sendo, poderíamos viver como estranhos uns para com os outros? Seria possível a indiferença, o individualismo descomprometido?

Não, não é possível. O amor com que Ele nos cativa entra nos nossos corações para que, a partir deles, chegue aos outros em gestos e atitudes de benevolência, compreensão, bondade, atenção, desculpa, generosidade, união. Quem é tocado por Aquele que, por amor, se entregou e se deu totalmente, não pode conhecer o desprezo do outro, a competitividade que não olha a meios para atingir os seus fins, a solidão que procura produtos para a ignorar, mas não para a superar, a violência inquietante e medonha, o divisionismo que facilmente conduz à guerra e esta à barbaridade e destruição total, etc. É que não basta um mundo de «eus»: é preciso que os diversos «eus», sem perderem a dignidade da sua individualidade, saibam coordenar-se numa unidade superior, para bem de todos. E esse bem tem um nome: chama-se fraternidade. Para que todos se sintam livres dos horrores da violência gratuita, da escravidão amarga, da angústia de se pensar que a sua vida não tem valor, dos medos do futuro, dos sobressaltos das notícias de barbaridades.

Minhas senhoras e meus senhores, enquanto me congratulo com a presença de todos, elevo aos Céus um forte pedido: Deus, cujo Corpo e Sangue celebramos, vos abençoe e vos proteja. Ele faça brilhar sobre vós a sua face e vos acompanhe com a sua misericórdia. O Senhor volte para vós o seu olhar e vos conceda a paz. A vós e a todo o mundo que nós formamos.

 

 

+ Manuel Linda 19 de junho de 2024