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Domingo de Ramos na Paixão do Senhor 2024

Fé e vida reclamam esperança

 

Começamos esta «Semana Maior» com um relato conhecido como a “entrada triunfal de Jesus em Jerusalém”. Também nós sentimos vontade de nos colocarmos entre a multidão daquele tempo e gritarmos a plenos pulmão: “Bendito o que vem em nome do Senhor! Hossana nas Alturas!”. Mas, agora, ouvimos a narração da Paixão e o nosso coração sentiu-se pequeno e esmagado perante a maldade de quem não conhece outra linguagem que não seja a do ódio e da violência, o sofrimento atroz causado ao próximo e o sangue derramado. Então, afinal, onde nos situamos?

Na vida, experimentamos continuamente tudo isto: momentos de exaltação e alegria e outros de prostração e desalento. Por vezes, parecem predominar estes. Mas é então que intervém o ânimo da fé e a palavra de Jesus que o fundamenta: “Coragem! Eu venci o mundo.” (Jo 16, 33). E toma conta de nós a grande virtude da esperança, “vacilante ao sopro do pecado/trêmula a todos os ventos/ansiosa ao menor sopro”, como escreve o poeta Charles Pèguy, mas sempre “tão invariável, tão fiel, tão reta,
tão pura, e invencível, e imortal, e impossível de apagar-se
”. Sim, a esperança é impossível de apagar-se porque constitui a força magnética de atração entre o divino e o humano, a elevação do homem até Deus e a familiaridade de Deus com a pessoa.

Olhamos para o nosso mundo e parece que só vemos o mal quimicamente puro, as atrocidades e a destruição de vidas e natureza. Sem a esperança, o cenário é sombrio. Nada mais restaria do que conformarmo-nos com uma “terceira guerra mundial por folhetins”, como diria o Papa Francisco. O relato da Paixão do Senhor parece continuar a reescrever-se na história da humanidade: condenação de inocentes, prepotência dos poderosos, “banalização/normalização do mal”, indiferença de tantos, o aparente silêncio de Deus, atentados contínuos contra a vida humana… Tudo parece condenar e fazer desaparecer a esperança e levar-nos à desistência.

Mas não! A esperança não aliena. Ela é virtude das mulheres e homens que fazem projetos e participam na Criação. Que sonham e plantam a novidade da graça. Ela é estímulo para meter mãos à obra e transformar os rastos de destruição em primavera de vida. Ela é garante que da cruz ensanguentada surgirão raios de luz da ressurreição e vida nova que nenhum túmulo poderá encarcerar. Ela, de facto, anima a fé nos tempos humanos e fortalece a caridade.

Irmãs e irmãos, a esperança liga-nos ao céu e motiva-nos a avançar, não como quem foge, mas como quem progride e contribui para a mudança, em si e à sua volta. A Igreja que somos, que amamos e servimos, é uma Igreja que não desiste de anunciar o Evangelho e de querer mostrar Jesus Cristo ao mundo. Estamos conscientes do sofrimento, dos males que afligem tantos e tantos, das causas que os provocam. Por isso, os queremos substituir pela alegria, esse grande desafio do nosso atual Plano Pastoral Diocesano. Por isso plantamos. Por isso evangelizamos. Por isso rezamos.

Construamos a esperança na oração. Ao elevamos ao Pai os nossos hinos de louvor e os nossos pedidos, por todos intercedemos, louvando também aquelas e aqueles que, por causa do amor a Jesus e à sua Igreja, estão presentes e agem no meio de tantas dificuldades por esse mundo fora. E há muitos Cireneus e muitas Verónicas por esses caminhos do mundo! Olhemos à nossa volta: no vasto mundo e na nossa Diocese, a Igreja e muitas pessoas de boa vontade contribuem, decididamente, para a paz, a comunhão, o perdão, a defesa da vida e da dignidade humana. E sempre que assim se faz, alivia-se o sofrimento e devolve-se ou alimenta-se a esperança.

Demos sentido à esperança, tema que nos vai acompanhar ao longo desta semana. Para isso, como se recitava na oração coleta, “vivamos unidos a Ele [a Jesus Cristo] na sua paixão para chegarmos a tomar parte na glória da sua ressurreição”. Esta é a grande palavra da fé. Mas não menos a da esperança.

+ Manuel Linda