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COMPREENDO E ACEITO

 

Saudação aos “Maiores”

Caras diocesanas e caros diocesanos que vos encontrais na idade dita «dourada»,

na vossa e na minha idade já se vive de recordações. Permiti, pois, que comece esta mensagem com uma referência à minha história pessoal.

Retenho na memória uma imagem da infância: a minha avó paterna, a única que conheci, sentada numa cadeira pois tinha dificuldades de movimento, a apanhar sol, com a bengala na mão e a rabiscar com ela no chão, como quem sente necessidade de escrever a sua história de vida. E eu, ao lado dela, sempre a fazer as perguntas mais infantis e aborrecidas: “Ó «vó», donde vem o frio?; Ó «vó», como é que as estrelas se seguram e não caiem?

Não sei que é que a minha avó pensaria da minha impertinência nem eu me recordo das respostas que me dava. Mas sei uma coisa: que gostava que eu estivesse junto dela e eu procurava a sua companhia.

Lembro-me disto porque sei bem que, convosco, se passa o mesmo: a maior alegria que vos podem dar é a companhia dos vossos. E, de forma especial aqueles que habitualmente vivem nos Lares e casas de repouso, anseiam por certas datas para o reencontro com os filhos, os netos e, porventura, os bisnetos. Claro que, a mais esperada dessas datas é sempre o Natal. Imagino, portanto, como contais o tempo: “ainda faltam tantos dias”; “já só faltam estes dias para o Natal”…

Este ano, porém, as coisas são diferentes. Exige de nós algumas privações. Porventura, pode exigir que saudemos os nossos e recebamos a sua saudação, mas pelo telemóvel ou pelo computador. É que esta terrível pandemia causa-nos muitos problemas e nem sequer permite que usemos a riqueza maior e que mais apreciamos: a expressão dos afetos que aquece a alma, os afagos de mãos que retiram todas as dores dos ossos, o beijo que diminui vinte ou trinta anos na idade, o sorriso que espevita a fogueira do amor e acende a da esperança.

Precisamente por causa disto, venho pedir-lhes o sacrifício acrescido de, este ano, sabermos prescindir daquilo que mais gostamos em nome da prudência: os contactos familiares por alturas do Natal. Para que o sofrimento de todos não aumente mais. É que todos nós ouvimos falar de conhecidos infetados pelo vírus, de amigos que tiveram de passar dias e dias nos cuidados intensivos dos hospitais, até, porventura, de pessoas que morreram no mesmo Lar. E isso gerou medo de contágio, pavor de que a epidemia se espalhasse mais, receio de nem sequer sabermos se a pessoa que se encontrava à nossa frente estava ou não infetada.

Graças a Deus, podemos já reanimar a esperança. Sim, graças a Deus que deu inteligência e determinação a tantos que estudaram, prepararam, testaram, produziram e lançaram as vacinas no mercado. E aí estão elas não apenas como medicamento que cura, mas prevenção que evita que se apanhe a doença. Graças a Deus que, dentro de poucos dias, começaremos o processo daquilo que os entendidos chamam a «imunidade de grupo». E poderemos voltar aos afetos, às carícias, aos encontros. Numa palavra, à família.

Se, neste Natal, não podereis regressar a vossas casas e muitos dos vossos familiares não poderão estar convosco, prometo a minha presença espiritual: eu estarei convosco na oração, no pensamento, na preocupação por vós. Sim, rezarei por vós. Rezai também por mim.

Se Deus quiser, para o ano, tudo será diferente. Aceitai, pois, o sacrifício deste ano para que, em 2021, só haja alegria e risos e não remorsos ou recordações tristes.

O Menino Jesus é o único Salvador do mundo. Curiosamente, o seu primeiro Natal foi como sabemos: de extrema pobreza, desconfortável, porventura com os seus pais cheios de fome e cansaço. Mas as pessoas uniram-se e nada faltou: vieram os pastores e trouxeram o que tinham, vieram os vizinhos e ajudaram, vieram os reis do Oriente e ofereceram grandes presentes. E o projeto de Deus cumpriu-se: o Menino cresceu e um mundo novo começou. É. Quando sabemos dar as mãos, as maravilhas acontecem.

Que o vosso Natal seja menos duro do que o de Jesus, Maria e José. E que os sofrimentos que têm de se suportar se transformem, brevemente, em alegria e contentamento, tal como referiram os Anjos aos pastores: “Anuncio-vos uma grande alegria. Hoje, na cidade de Belém, nasceu-vos um Salvador!”.

Um Natal feliz e abençoado! E um novo ano com muita saúde e alegria, vivido na graça de Deus!

O vosso bispo e irmão,

+ Manuel, Bispo do Porto