POLITICA DE COOKIES
Utilizamos cookies para assegurar que lhe fornecemos a melhor experiência na nossa página web. Ao continuar a navegar consideramos que aceita o seu uso.
COMPREENDO E ACEITO

 

Sementes

Os Apóstolos eram mais lentos na fé do que nós? Não sei. Nada o prova. O que chama a atenção é a sua frequente dificuldade em reconhecerem o Ressuscitado. Tal como o evangelista João sintetiza: “Na verdade, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual Jesus havia de ressuscitar de entre os mortos” (20, 9).

Não admira. A ressurreição não é uma simples reanimação do corpo. É muito mais. Tanto que passa para lá da nossa imaginação. O que não quer dizer que não seja um facto histórico: trata-se do corpo vivo do Senhor. Mas corpo glorioso. Poderia ser comparado à semente e à árvore: embora muito diferentes, a árvore frondosa já estava «toda» presente no ADN da semente. Uma supõe a outra.

Jesus usou esta linguagem. A estrangeiros que o queriam ver por causa da sua fama, assegura-lhes: “Se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, permanecerá ele só; mas se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12, 24). O caule que suporta a espiga do trigo é diferente do grão da origem. Mas um continua-se no outro. Isto estava presente no pensamento de Jesus quando disse a Nicodemos que quem não sofrer transformação, “quem não nascer de novo, não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3,3).

Quando se fala em nascimento e em semente, a inteligência das coisas remete para a mulher. Curiosamente, é por alturas do mistério pascal que mais mulheres são referidas no Evangelho: a criada do sumo-sacerdote, a esposa de Pilatos, Verónica, as várias de Jerusalém que choram a sorte de Jesus, Maria Madalena e todas as outras que O acompanham ao Calvário e testemunham a pedra removida do sepulcro, etc. E, principalmente, Aquela que está sempre presente: a Mãe.

Nesta lógica, é a mulheres a quem o Glorioso aparece pela primeira vez. E é a elas que se confia o mais sagrado encargo pascal: «evangelizar» os Apóstolos e testemunhar-lhes que o Ressuscitado os reenvia à Galileia, para recomeçar o que lá se tinha começado. Isto é: o aprender a seguir Jesus, relendo à luz da Páscoa o que aí fora dito e feito. As mulheres constituem, portanto, o sustentáculo do “querigma”, o anúncio central da fé cristã: a morte, a sepultura e a ressurreição do Senhor.

Que seriam o mundo e a Igreja sem mulheres? Certamente, sementes sem árvores. Ou, pior ainda, não-mundo e não-Igreja.

Então, que elas assinalem o mundo com a verdura da esperança e a luz da ressurreição.

***