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COMPREENDO E ACEITO

 

Pobreza

A credível Fundação Francisco Manuel dos Santos publicou novo estudo sobre a pobreza em Portugal. Não traz novidades retumbantes. Mas confirma o que pressentíamos e acrescenta-lhe garantia científica.

Entre os muitos dados, ressalto estas sínteses: um em cada cinco portugueses vive em situação de pobreza; destes, curiosamente, metade até têm um emprego com contrato de trabalho sem termo; assim sendo, conclui-se que não basta ter um emprego seguro para não se ser pobre. Então, que falha?

Entre nós, a pobreza parece ser o resultado de uma conjugação de três fatores: baixos salários, interligação familiar e insignificantes apoios sociais. De facto, 60% dos trabalhadores recebe menos de 60% do rendimento médio. Quer dizer: se este já é desequilibrado por natureza -é vulgar lermos que alguns administradores se atribuíram milhões a título de desempenho, o que faz com que meia dúzia deles aufiram tanto ou mais que o ordenado do conjunto de centenas dos seus funcionários- então, a maioria tem de se contentar com o mínimo dos mínimos para que uns poucos arrebanhem o máximo dos máximos.

Quanto à família –e isso é sinal de que ainda funciona- se um membro entra em situação de carência (desemprego, dívidas, doença), é todo o agregado que suporta a diminuição de rendimentos. E para o pobre, o pouco conta muito. Claro que a segurança social não ajuda, pois sacrificou a flexibilidade à burocracia.

Com este estado de coisas, o futuro não é risonho. Se lhe juntarmos fatores tais como o previsível aumento da longevidade e o peso da faixa entre os 65 e os 85 anos (neste momento, ainda predomina a da idade ativa, isto é, entre os 35 e os 65 anos), calculam os entendidos que, para colmatar o já tão problemático fosso entre as receitas e as despesas do Estado, será necessário aumentar os impostos em mais 22% ou reduzir os benefícios sociais em 19%. Ou, porventura, os dois ao mesmo tempo.

A Igreja não é técnica nestes assuntos. Mas está no mundo e a sua sensibilidade aos problemas humanos torna-a uma força de alerta muito credenciada. Não se limita ao assistencialismo, embora as circunstâncias ainda a obriguem a fazê-lo. Mas ajuda a construir a justiça, quando mais não seja pela denúncia de que a pior estirpe da pobreza é a mental: a daqueles dirigentes sociais, sem rasgo nem ousadia, incapazes de promover a mudança.

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Photo by Khachik Simonian on Unsplash