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COMPREENDO E ACEITO

 

O jogo desigual

Havia um sacerdote, lá para o Alto Douro vinhateiro, conhecido pelo seu saber e boa disposição. As pessoas gostavam de o ouvir. E, para o provocarem, usavam uma expressão típica dessa zona: “O senhor bebe do fino”. Era então que a tez se modificava e, jogando com as palavras, atalhava a indireta: “Se com isso queres insinuar que não há vida como a de padre, digo-te que não é verdade. Isto não é d’ouro. É duro!”.

E era mesmo. No campo da fé, a zona era árida, devido a antigas influências antirreligiosas; economicamente sobrevivia com dificuldades, para não se tornar refém dos poucos ricos donos de tudo; deslocava-se a cavalo ou a pé no rigor do inverno e na fornalha do verão; o jejum eucarístico não lhe favorecia a saúde; porque a taverna não era boa conselheira e as pessoas passavam o dia na vinha, a solidão tornou-se a sua companhia habitual. Vivia alegre, mas sabia bem que a opção sacerdotal tinha custos. E experimentava-os diariamente.

As condições mudaram e as comunicações e os transportes permitem aos sacerdotes encontrarem-se uns com os outros, seja na formação contínua, seja nos grupos de convívio. Não obstante, permanece a mesma forma de vida «estranha»: exerce um ministério em favor de todos, sem ser de qualquer um e sem ser mais um na multidão. Sim, ao contrário do que procura insinuar a frase corrente, o padre, efetivamente, não é um homem como os outros: é diferente e mal dele se não se sentir como tal.

E aqui é que reside o problema: sendo diferente de todos, não são muitos os que o sentem como “dos seus”. Ora, quando não há identificação, facilmente se chega à oposição: o padre passa a ser visto como um estranho que se situa “do outro lado”. Por isso, nas situações de incompreensão e conflito, notam-se muito mais os que estão contra do que os que estão com ele. Se é que estes têm coragem de dar a cara e levantar a voz para garantir que o padre não está só.

O pai de um seminarista, homem temente a Deus, mas com os pés assentes na terra, costumava perguntar ao filho: “Tu queres mesmo ser padre? Dás-me muita alegria. Mas não te esqueças que ser padre é jogar um jogo desigual: todos contra um”.

Depois da semana dos Seminários, que os fiéis leigos se interroguem que posição ocupam neste jogo.

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