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COMPREENDO E ACEITO

 

Dívidas

 

Alguma imprensa estrangeira interroga-se sobre as razões do “milagre português”, no que ao número de hospitalizados e mortos pela pandemia diz respeito. Mesmo sabendo que ainda é cedo para fazer as contas, já se podem intentar causas. A começar pela proteção divina, sem dúvida, a quem nos consagramos. Mas essa não é demonstrável, a não ser pela intuição dos corações crentes.

Entre os outros motivos, não será descabido referir o sentido gregário dos portugueses e o seu comprometimento cívico, a responsabilidade social da Igreja que assumiu a dianteira com as primeiras regras de higiene pública, o «sacerdócio» dos profissionais de saúde que se têm dedicado apreciavelmente, a iniciativa autárquica e de organizações diversas que completaram a capacidade do Serviço Nacional de Saúde com múltiplos hospitais de campanha, as generosas ofertas de tantos particulares, a insistência nos testes de despistagem a expensas das Câmaras e organismos não-estatais, etc.

Mas a grande explicação parece ser outra: uma rede capilar de assistência à terceira idade, promovida e dedicadamente mantida pela iniciativa privada, de modo especial, pela Igreja. Quando se observam países com mais possibilidades do que Portugal, tal como a Itália, a Espanha e a Inglaterra, vê-se que o elevadíssimo número de óbitos aconteceu, fortemente, entre os velhinhos institucionalizados em unidades do Estado ou em estruturas «comerciais» para ricos, rentáveis para os investidores.

Entre nós, as direções e os funcionários dos Lares não abandonaram o rebanho quando o lobo chegou. E se já tratavam bem os utentes, de tal forma que a sua vida, graças a Deus, está a ser prolongada para além do inimaginável, nesta crise, redobraram de trabalhos e sacrifícios. A ponto de muitos ficarem infetados e correrem sérios perigos. Mas o resultado vê-se.

O Estado tem uma enorme dívida para com estas instituições. Não apenas uma dívida de gratidão, mas financeira. É que paga 398 euros pela maioria dos idosos, quando eles custam, realmente, 1.300. E, atendendo às reformas, a média da percentagem do contributo dos institucionalizados não passa dos 300 euros. Assim sendo, quem paga os 600 que faltam?

É uma dívida que deveria ser imputada ao Ministério da Saúde. Porque, mesmo que não se designem assim, os nossos Lares são, hoje, as verdadeiras Unidades de Cuidados Continuados.

Alguém que o negue?

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