Descansos
A Bíblia está cheios de referência ao descanso. Nos inícios, ao sétimo dia, depois da Criação, Deus “descansou” (Gn 2, 2). Por causa desta metáfora, o judaísmo introduziu no mundo o maior evento da civilização de todos os tempos, dando origem a um dos Mandamentos (Ex 20, 8-11): o descanso semanal. A dimensão cósmica deste repouso estendia-se à própria terra, chamada a ficar de pousio de sete em sete anos (Lev 25, 2).
Jesus acentua o valor do descanso, como serviço à pessoa. Convidava os discípulos a “descansar um pouco” (Mc 6, 31), e Ele próprio descansava (Mc 4, 38). Via o descanso não somente como isenção do trabalho, mas como libertação das fadigas e dos sofrimentos da existência. Por isso, rezamos pelos defuntos: “Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso. Que descansem em paz”.
O descanso de Jesus é operativo, exigido por uma intensa atividade realizada e que prepara a existência para um novo dinamismo. É um descanso que engloba um presente que se liga a um passado de forte atividade, em ordem a um futuro em que esse dinamismo tem de se realizar com a mesma força ou ainda mais. Assim tem de ser o do crente.
Mas nem todo o descanso se insere nesta visão. Algum é… contínuo ou empírico: nem se originou no cansaço nem fortalece a vontade para se dedicar ao que tem de ser feito. Foi o que aconteceu com os Apóstolos no jardim das oliveiras. O Senhor mandou-os vigiar. Três vezes! Mas eles não fizeram caso de nenhuma delas e… dormiram. É então que, desapontado, o Mestre pronuncia a frase magoada: “Dormi agora e descansai” (Mt 26, 45). Hoje, a respeito de tantos fiéis da Igreja, não poderia pronunciar as mesmas palavras de desânimo?
Mas não a respeito de todos. Os párocos que vigiaram o seu rebanho, os religiosos que rezaram por ele, os catequistas que o ajudaram a aproximar-se de Deus, os missionários que O anunciam em toda a parte, os diversos grupos que intentam a organização, os que se dedicam às coisas de Deus, os velhinhos que rezam porque não podem fazer mais, os que humanizam o mundo servindo os frágeis, as crianças que falam de Jesus aos seus amiguinhos, os pais que pronunciam o nome de Deus, os técnicos que velam pela nossa saúde, os professores que efetivamente educam, os trabalhadores que dotam a nossa vida do indispensável, esses têm direito ao descanso.
Então, bom descanso, para, depois, continuarmos a nossa dimensão pastoral e humana, ainda com mais garra!
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