No dia 13 de julho, na Catedral do Porto, numa Eucaristia presidida por D. Manuel Linda, bispo do Porto, foram ordenados presbíteros Emanuel João Macedo da Mata, de S. Mamede de Infesta, que fez a sua formação no Seminário Maior do Porto e José Manuel Ferrão Abrantes, de Mangualde e José Moisés Ramirez Guerra, do Perú, ambos do Seminário Diocesano Missionário Redemptoris Mater.
Publicamos entrevistas com os três novos padres. As perguntas são estas:
1- Quando é que o seu amor a Cristo passou a ser chamamento para a vida sacerdotal?
2- Como foi o seu percurso de vida até chegar ao Seminário?
3- Para si o que é ser padre hoje?
Sou o Emanuel Mata, tenho 26 anos e sou da Paróquia de São Mamede de Infesta, Matosinhos. E fiz a minha formação no Seminário Maior do Porto.
1+2: “O meu amor a Cristo passa a chamamento para a vida sacerdotal a partir do discernimento vocacional que eu fiz no Seminário do Bom Pastor, com os Encontros do Pré-Seminário. Porque eu desde criança que digo que quero ser padre. E, por isso, o caminho que eu fiz foi a partir da minha primeira comunhão. E a história da minha vocação é engraçada porque desde criança que eu vou à missa com os meus pais, à missa de domingo. E sempre fui uma criança irrequieta. Então, dizia que queria ser como aqueles rapazes e raparigas que estavam vestidos de branco, que estavam no altar. Porque assim ia fazendo alguma coisa durante a Eucaristia. O tempo até acabava por passar melhor. Então, a minha vocação nasce desta descoberta da Eucaristia, da participação na Eucaristia e da vivência desta vida cristã a partir da Eucaristia dominical. Desde a primeira Comunhão, depois comecei a dizer que queria ser padre, mesmo sem saber o que era um padre. E depois fui para o Seminário do Bom Pastor, também acompanhado pelo meu pároco, na altura o Padre Ângelo, e por isso fiz esta descoberta vocacional com o Pré-Seminário. Foi um caminho com os seus altos e os seus baixos, onde fui dizendo que queria ser padre, onde fui descobrindo o que é que o padre fazia, o que é que o padre é na sua essência. E isso ajudou-me a discernir se era este o caminho que eu devia de seguir. E assim cheguei à conclusão que Deus me foi chamando nas diversas fases da minha vida e que me fez caminhar dia após dia com as pessoas que me rodeavam. A minha família, os meus amigos, os padres dos seminários, do Seminário do Bom Pastor, do Seminário Maior, que me foram ajudando a fazer este caminho. E foi um caminho muito bonito, com diversas fases, e que me ajudou a chegar até este momento de ordenação sacerdotal. E fico bastante feliz pelo caminho que fiz ao longo da minha vida”.
3: “Ser padre nos dias de hoje é ser um sinal de esperança na nossa sociedade. Numa das suas catequeses sobre a esperança, o Papa Francisco diz-nos que devemos ser semeadores da esperança. E penso que o padre, nos dias de hoje, no nosso tempo e no nosso lugar, tem de ser este semeador da esperança, através da sua proximidade com Deus e também através da sua proximidade com as pessoas. O padre é aquele que ama a Deus e ama os irmãos, também a partir deste amor de Deus. Por isso, o ser padre implica acolher as pessoas, implica ser um perito em humanidade. Os padres hoje, têm de ser peritos em humanidade, de forma a reacenderem no coração das pessoas a fé em Jesus e o amor à Eucaristia. Basicamente, o padre tem de levar Cristo ao coração do mundo, e trazer o mundo ao coração de Cristo. E essa, se calhar, é a nossa grande missão para os dias de hoje, de forma a sermos este sinal de esperança e este sinal do amor de Deus no nosso mundo”.
Eu sou o José Abrantes, tenho 37 anos, sou natural de Mangualde e venho do Seminário Redemptoris Mater de Santa Teresinha do Menino Jesus no Porto.
1: “Eu venho de uma família católica por tradição. Sou o mais novo de dois irmãos, e a minha família, desde pequeno que me levavam à Eucaristia dominical, me levavam à catequese. E lembro que fiz toda a catequese até fazer o Crisma. Mas nessa altura, ainda não tinha tido um encontro verdadeiramente pessoal com Cristo. Ia mais por tradição, e não por convicção. E lembro-me quando tinha 15 anos, me afastei um pouco da Igreja. E depois, um pouco mais tarde, quando tinha 16 anos, um dia fui com os meus pais e meu irmão ver o filme “A Paixão de Cristo”, e aí pela primeira vez o Senhor me tocou através do Seu amor. Eu senti ali o amor gratuito de Jesus Cristo na minha vida. E depois, também pude ver as minhas misérias, e também os meus pecados. Mas a partir daí, o Senhor pela primeira vez me chamou a ter uma participação mais ativa na Igreja. Comecei a frequentar o grupo de jovens da paróquia. E até que aos 18 anos, senti este chamamento de entrar no seminário”.
2: “Falei com a minha família e, na altura, eles disseram-me que primeiro eu devia estudar, tirar um curso superior, e só depois é que devia entrar no seminário. Lembro-me que na altura fiquei um bocado contrariado, mas obedeci. E pensei: “Pronto, vou tirar o curso”. E como eu gostava de ciências, fui tirar Biologia na Universidade de Coimbra. Mas só que na universidade aquele ambiente cristão que eu tinha na minha família, na minha paróquia em Mangualde, desapareceu um pouco, não é? E depois cheguei à conclusão que não podia viver a minha fé sozinho. Precisava de uma comunidade onde pudesse viver a minha fé. E aconteceu que durante todo o percurso da faculdade, tirei o meu curso, comecei a trabalhar na área, tinha o meu dinheiro, e pensava que as coisas corriam bem na vida. Mas como me tinha afastado um pouco de Deus e da Igreja, comecei a sentir um vazio dentro de mim. Faltava algo na minha vida, que no fundo era Deus. Vivia para mim próprio, e o Senhor me chamava a dar a vida por Cristo e pela Igreja, por amor aos irmãos. E lembro-me que na altura comecei a procurar na Igreja, lá em Coimbra, uma igreja franciscana, a Igreja de Santo António dos Olivais, em que me apresentaram uma comunidade neocatecumenal, onde comecei a fazer uma Caminhada de Fé. E nessa Caminhada de Fé pude redescobrir esta minha vocação ao sacerdócio. Na altura comecei a frequentar as catequeses iniciais, depois comecei a fazer uma Caminhada de Fé que me levou mais tarde às Jornadas Mundiais da Juventude em Cracóvia, em 2016, e que depois, através de um percurso vocacional, me levou a entrar no seminário, onde frequentei todos estes anos o seminário, o Seminário Redemptoris Mater Santa Teresinha do Menino Jesus, no Porto. E no Seminário pude-me sentir amado pelos irmãos. Pude-me realmente sentir realizado. E também ao longo de todo este meu percurso vocacional no Seminário, mais tarde fui um tempo em missão. Tive também no Brasil, depois voltei, fiz o estágio pastoral, e também pude redescobrir na minha vida, também, a importância da vida de oração, da vida contemplativa, tanto no Caminho Neocatecumenal, até mais tarde também. No Brasil também conheci as Irmãs do Instituto Hesed, que me ajudaram também na minha vida de oração, sobretudo através da Adoração Eucarística e da oração do Rosário, como nos pede Nossa Senhora em Fátima. Com essas irmãs que me fizeram redescobrir que sem a vida de oração, não posso dar Cristo aos outros. Primeiro, preciso de me encher de Deus para depois poder dar Deus aos outros. Contemplar para evangelizar. Portanto, em resumo, posso dizer que a minha vocação sacerdotal tem estas três dimensões. Uma dimensão missionária, que primeiro descobri na minha família, sobretudo naquela experiência do filme “A Paixão de Cristo”, que me levou a ver que o amor que Deus me tem, não o posso guardar só para mim, mas preciso também de o dar os outros, não é? E depois, mais tarde, através dessa comunidade neocatecumenal, através do anúncio carismático deste amor de Cristo, pude consolidar esta vocação missionária. Depois, também, a minha vocação sacerdotal tem uma dimensão comunitária. Como já referi, quando tive na faculdade, senti que não podia viver a minha fé sozinho, mas precisava de uma comunidade, que pude escolher essa comunidade neocatecumenal, que depois me levou ao seminário. E, por último, a minha vocação sacerdotal também tem esta dimensão contemplativa que descobri – redescobri, aliás – através dessas irmãs do Instituto Hesed. Que me fizeram ver que primeiro eu preciso de me encher de Deus para dar a Deus aos outros. Preciso de, no fundo, contemplar para evangelizar. E são estas dimensões da minha vocação sacerdotal. E este o meu percurso vocacional, de uma forma resumida”.
3: “Ser um padre significa, para mim, ser um anunciador deste amor misericordioso de Jesus Cristo aos homens, para que os homens se possam salvar. Cristo não nos veio para condenar, mas para nos salvar. Ele morreu na cruz pelos nossos pecados e ressuscitou. E está vivo para nos dar uma vida nova, a vida eterna que todos nós procuramos. Penso que todas as pessoas pensam em ser felizes, mas muitas vezes procuram a felicidade em sítios errados, porque não sabem. Mas o sacerdote tem essa missão de anunciar Jesus Cristo aos homens, que é a verdadeira felicidade, que é a verdadeira fonte de felicidade. E depois também celebramos os sacramentos, onde Cristo se faz presente. Sobretudo na Eucaristia, no sacramento da Confissão, que é o sacramento da misericórdia”.
Olá, o meu nome é Moisés, José Moisés Ramírez Guerra. Tenho 34 anos, sou do Seminário Redemptoris Mater Santa Teresinha do Menino Jesus, e sou do Peru.
1: “Quando é que o meu amor a Cristo passou a ser chamamento para a vida sacerdotal? É uma pergunta para mim muito forte, porque eu vejo que o meu amor a Cristo surgiu dentro de uma família cristã. Eu sou o quinto de dez irmãos. Tenho um irmão que foi ordenado presbítero o ano passado e tenho uma irmã que foi receber votos perpétuos o ano passado. E venho de uma família que me transmitiu os valores cristãos. Vivi uma infância e uma adolescência dentro de um núcleo familiar construído, que me educou. Fui à escola. Entrei na faculdade. E dentro de todas essas fases, o meu amor a Cristo começou a construir-se. Primeiro através da família. Através dos irmãos da Igreja, na minha comunidade. Depois tive uma fase de afastamento, uma fase de afastamento da Igreja, da comunidade… Por culpa dos meus pecados, de procurar o amor de Deus em outras coisas. No entanto, eu experimentei o amor de Deus através do acolhimento que teve a Igreja para mim, com os braços abertos, como uma mãe, quando eu merecia outra coisa. A experiência deste amor de Deus que me abre os braços, que me acolhe na sua Igreja, começou a gerar em mim a gratidão. A gratidão para mim é a experiência do amor de Deus perante a minha atitude contra Ele. E isso gerou em mim poder disponibilizar a minha vida, poder começar a sentir que este amor de Deus, este amor de Cristo, me chamava para outra coisa. Poder oferecer a minha vida, oferecer a minha disponibilidade, para o serviço da Igreja através deste ministério sacerdotal”.
2: “O meu percurso de vida é muito simples. Eu começo dizendo que o meu percurso de vida começa já no seio da minha mãe. Porque a minha história começa já dos meus pais, porque os meus pais só tinham dois filhos, estavam fechados à vida. Depois o Senhor reconstruiu o matrimónio da minha família, meus pais, e nasceram mais oito irmãos, dos quais, por graça de Deus, três vocações para o sacramento da Ordem. E eu vejo que o Senhor já me chamou desde que eu nasci, pela gratidão dos meus pais, de abrir-se à vida, para que o Senhor faça dos filhos o que Ele quer. Depois, eu vejo como o meu percurso foi normal. De um jovem, uma criança que foi à escola, que teve irmãos, que brigou, que se reconciliou, que rezou com os pais, que foram à igreja. Uma adolescência igual, com algumas diferenças, que se começa a formar a personalidade, os amigos, e começamos a ter outros gostos. Depois, eu vejo como eu sempre quis casar, ter filhos, pelo que vi dos meus pais, a minha família, e das pessoas da Igreja, mas o Senhor me chamava para outra coisa. E é um chamamento que surgiu através da gratidão do que o Senhor fez comigo e com a minha família, através da misericórdia que o Senhor teve comigo em toda a minha vida. Entretanto, fui para um convívio que nós fazemos através do Caminho Neocatecumenal na Itália, e por sorteio fiquei em Portugal. E em Portugal é que estou no seminário onde fui formado, onde conheci rapazes de outras nações, onde conheci o clero desta cidade, as pessoas desta cidade que me acolheram muito bem e pude experimentar o amor no acolhimento. Logo, comecei a avançar no seminário. Mandaram-me fazer o estágio na Paróquia de Oliveira do Douro, com o Padre Alípio Barbosa, onde estive um tempo. Depois, estive um tempo com o Padre David Laranjeira, na paróquia de Rans, Valpedre e Galegos, na qual vim a fazer o meu tempo de diaconado também como o Padre David Laranjeira, nestas três paróquias. E graças a Deus, a minha ordenação é dentro em breve”.
3: “Para mim, ser padre tem dois pontos fundamentais. Duas palavras que me ajudaram muito. Uma do meu reitor, e outra de um padre de Salamanca, que um tempo, em 2021, estive lá na Espanha a fazer um tempo de missão, e que me disse uma frase que me ajudou muito. Vou dizer em espanhol, depois faço a tradução. O Padre Juan José me diz: Moisés, um padre é “el camareiro del Pueblo de Dios”. Quer dizer que um padre é um empregado de mesa do povo. É o que está sempre ao serviço. E, para mim, ser presbítero é isso. Ser o servente. É, através dos sacramentos, mostrar a misericórdia do Pai. Ser um padre, para as pessoas que muitas vezes se sentem órfãs do amor de Deus. O meu reitor tem uma frase que também me ajudou muito, que sempre diz no seminário, e isso fica marcado na vocação para ver a dimensão do presbiterado. O reitor dizia que: O que não vive para servir, não serve para viver. Isso também foi uma das coisas que me ajudou a poder disponibilizar o meu tempo, a minha vida, como gratidão de Deus na minha história. Por isso, para mim, um presbítero é uma pessoa feliz, que entra ao serviço da Igreja, que transmite o amor do Pai, e que pode servir. E que pode transmitir aos outros que Deus ama, e podem ser felizes”.