No Jubileu das paróquias da cidade do Porto, D. Manuel Linda apontou “três pontos para uma pastoral citadina, orgânica e em rede”: uma maior abertura ao outro e à sociedade, fomento da comunicação e sinergia pastoral e um novo ímpeto eucarístico e catequético.
Na celebração do Jubileu das paróquias da cidade do Porto, no sábado 11 de outubro, D. Manuel Linda afirmou que a atual situação urbana “exige uma pastoral de conjunto, articulada e missionária.
“A pastoral do conjunto deve olhar para esta realidade com os olhos de Jesus: escutando, servindo, curando e evangelizando. Somos chamados a unir forças para responder juntos aos desafios da cidade. Sem isolacionismos, mas em comunhão eclesial”, declarou D. Manuel Linda numa Eucaristia que encheu a catedral do Porto com tantos paroquianos das comunidades católicas da cidade do Porto, no dia da padroeira da invicta, Solenidade de Nossa Senhora de Vandoma.
Para o bispo do Porto é urgente passar de uma “pastoral de ‘silos’ paroquiais” para uma “pastoral de rede”, com “projetos abrangentes”. Em concreto, sugeriu na sua homilia “três pontos para uma pastoral citadina, orgânica e em rede”:
“1. Uma maior abertura ao outro e à sociedade traduzida em: equipas de acolhimento e valorização para integrar pessoas que chegam à cidade provenientes de todo o mundo; diálogo com a cidade e cultura urbana, estimulando a presença evangelizadora nos espaços públicos, culturais e digitais e evangelizar através do património cultural, tornando a Igreja “casa de portas abertas” EG 47); realizar a autêntica conversão à opção preferencial pelos pobres e feridos, priorizando a dimensão social e solidária da fé, mobilizando os crentes e a sociedade para a resolução dos problemas das fronteiras existenciais; etc.
2.Fomento da comunicação e sinergia pastoral. Em concreto: criação de canais de comunicação interparoquiais eficazes, digitais e presenciais; promoção de encontros regulares de partilha entre párocos, conselhos e equipas pastorais; formação dos Conselhos Pastorais Vicariais; dinamização de equipas da cidade ou assessorias para coordenar áreas comuns, tais como a catequese, liturgia, pastoral juvenil, ação social, família, cultura; partilha de recursos humanos e materiais, evitando duplicações e fortalecendo sinergias; favorecimento da comunicação entre paróquias por meios digitais e encontros presenciais; fortalecimento da presença da Igreja na comunicação social e na discussão pública, etc.); investir numa verdadeira Pastoral da Escuta (criar locais de escuta ativa em Igrejas centrais da cidade, abertos a todas as pessoas que estejam a passar por um momento difícil na sua vida –doença, solidão, medo, luto, angústia, dificuldades matrimoniais, crises de fé- contando, para tal, com equipas que juntem sacerdotes e religiosos a leigos, nomeadamente psicólogos, juristas, enfermeiros, médicos, entre outros).
3.Um novo ímpeto eucarístico e catequético que passa por: formação espiritual, partilha generosa dos bens e do tempo e esforço renovado para manter Eucaristias cativantes e belas; abertura à criação de possíveis centros interparoquiais de catequese, mantendo as festas próprias do itinerário catequético nas respetivas paróquias; colocação ao serviço da comunidade da criatividade dos grupos de jovens e maior articulação com a pastoral universitária, movimentos juvenis, escuteiros, aulas de Moral, etc.; fomentar a adoração eucarística e a visita ao Santíssimo, com as igrejas de portas abertas; valorizar ainda mais as manifestações públicas de fé, incluindo a procissão do Corpo de Deus”.
Para o bispo do Porto, para a resposta a estes desafios será necessária uma “motivação para uma verdadeira cultura do encontro”. “Pede-se uma maior capacidade de trabalhar em conjunto; um esbatimento maior das fronteiras entre as Paróquias e as duas Vigararias, valorizando o papel das assembleias vicariais e a partilha de experiências e de boas práticas, aliás favorecidas pela dimensão reduzida do território da cidade e transversalidade dos problemas; o fortalecimento da presença no mundo universitário e a recuperação do tradicional associativismo católico laical”, disse D. Manuel Linda.
O bispo do Porto assinalou as principais transformações “que a cidade sofreu nas últimas décadas, e de forma mais acelerada nos últimos anos”. “É uma mudança que gerou uma grande polaridade social e cultural; novas formas de pobreza (aumento da população sem abrigo, da população só, dos fenómenos relacionados com os consumos aditivos, etc.); redução do número de residentes, particularmente nas freguesias do centro histórico; concentração da economia da cidade no turismo e atividades conexas; aumento muito considerável da população imigrante”, referiu D. Manuel Linda.
Na cidade do Porto “acentuam-se fenómenos cujos sintomas se sentem nas nossas comunidades”, disse D. Manuel Linda referindo alguns: “deslaçamento das comunidades paroquiais, com um número crescente de fiéis a mudar-se para fora do Porto, reduzindo, assim, o número de participantes na Eucaristia e o de voluntários para assegurar os serviços paroquiais; agudização da solidão, como consequência da redução das relações de vizinhança, particularmente notória nas pessoas mais frágeis, como idosos e doentes; agravamento do sentimento de medo e de diferença face ao outro, motivando fenómenos racistas e xenófobos. E outros mais subtis, mas não menos presentes, quais sejam as mudanças tecnológicas e societárias, ligadas ao desenvolvimento da inteligência artificial, à centralidade das redes sociais na discussão política e cívica, a um maior individualismo e a um agravamento da secularização e do envelhecimento populacional”, disse o bispo do Porto na sua homilia na celebração do Jubileu das paróquias da cidade do Porto.