Está disponível no Paço Episcopal do Porto uma exposição em homenagem ao Terceiro Visconde de S. João da Pesqueira, benfeitor da diocese do Porto e da Igreja em Portugal.
A propósito dos 100 anos passados sobre a morte do Terceiro Visconde de S. João da Pesqueira houve uma remodelação da sala já antes dedicada aos Viscondes, no sentido de criar uma exposição mais focada no Visconde, destacando alguns dos principais aspetos que definiram a sua vida (através de objetos, documentos e fotografias), nomeadamente a Fundação do Colégio Português em Roma, a Devoção a Nossa Senhora de Lourdes, o interesse pela 1.ª Guerra Mundial e o gosto pelo colecionismo de peças em vidro e cristal, além de alguns objetos mais pessoais. A Sala onde se encontra exposta a baixela manteve-se intacta.
Com efeito, desde 1 de Setembro é possível visitar no Paço Episcopal do Porto uma exposição em homenagem ao Terceiro Visconde de S. João da Pesqueira, dia em que se comemorou o primeiro centenário do seu falecimento.
É uma árdua missão tentar dignificar a memória de alguém como Luís Maria de Sousa Rebelo Vahia (1861-1925). Qualquer tentativa é sempre uma visão muito redutora daquilo que foi a sua vida e da forma como certamente marcou muitas outras vidas. Mas também não é justo deixar que a sua memória caia no esquecimento. O primeiro centenário da sua morte pareceu-nos o momento exato para voltar a lembrar a sua passagem terrena através do seu vasto legado material – objetos, documentos e fotografias – e assim recordar o seu ainda mais vasto legado imaterial.
O legado material é sem dúvida considerável. Juntamente com a sua esposa, D. Maria Adelaide Pinto da Silva (1854-1949), com quem contraiu matrimónio em 1897, eram detentores de uma vasta fortuna. Reuniram, ao longo da sua vida, um notável acervo de obras de arte, desde várias esculturas de autores como António Teixeira Lopes (1866-1942) ou telas do pintor Raul Maria Pereira (1877-1933), cuja formação apoiaram financeiramente. Nutriam ainda um particular interesse por objetos ligados a D. Miguel (1802-1866) e aos Papas, artigos militares (nomeadamente da I Guerra Mundial), postais, vidros, cristais ou moedas desde a idade média ao século XX. Da sua coleção particular merece destaque o serviço de jantar em prata, conhecido por Baixella Manoelina, cujo desenho foi encomendado a Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) e a execução ficado a cargo de uma das mais afamadas casas da época na cidade do Porto, a Ourivesaria Reis & Filhos.
Eram figuras de destaque na cidade Invicta. Entre muitas outras iniciativas, acompanharam visitas da Família Real, frequentaram os bailes do Club Portuense, o Visconde era um dos secretários da Assistência Nacional aos Tuberculosos, Presidente da Associação Católica do Porto e chegou, inclusive, a fazer parte do grupo de fundadores de adorações mensais ao Santíssimo Sacramento nesta mesma cidade.
Mas a sua vida não se circunscrevia ao Porto. Com a sua esposa passava inúmeras temporadas em Paris, Lourdes, Roma ou Viena. Eram próximos de Papas, de importantes figuras da realeza europeia como Maria Teresa de Bragança (1855-1944), Arquiduquesa da Áustria e de D. Aldegundes de Bragança (1858-1946), Condessa de Bardi e seu irmão, D. Miguel Januário de Bragança (1853-1927) e seus descendentes.
No entanto, é o seu legado imaterial que mais torna a sua figura inolvidável. Católico convicto e extremamente devoto, levou uma vida assente nos valores da caridade e fraternidade cristã. Guiado por uma enorme vontade de ajudar o próximo e fazer o bem, procurou também dispor dos seus sólidos meios de fortuna e tempo disponível nesse sentido, aliando a estes, as vantagens da sua posição social e proximidade com as pessoas mais distintas e poderosas da sua época.
Neste âmbito, a fundação do Colégio Português em Roma foi talvez o seu maior projeto de vida. Quer o Visconde, quer a Viscondessa, visitavam frequentemente a Irmã Maria do Divino Coração e com ela falavam da insuficiente formação do Clero Nacional. Movidos por uma enorme vontade de dotar o seu país de padres com uma melhor preparação para cumprir a sua missão, procuraram diversos apoios, nomeadamente junto do Papa Leão XIII e do monarca português, na tentativa de explicar a importância deste projeto e de abolir uma lei nacional que impedia o reconhecimento de padres em Portugal que tivessem estudado no estrangeiro. Tendo sido bem-sucedidos, assumiram todas as despesas relativas à fundação desde colégio e à sua sustentação nos primeiros anos. O primeiro grupo de alunos teve todos os seus gastos com a viagem, roupas ou livros pagos pelos Viscondes.
Para lá do enorme apoio financeiro sem o qual a fundação do Colégio Português em Roma seria impossível, ficam como exemplo, até aos dias de hoje, a sua dedicação à causa, a sua persistência e a sua vontade de servir a Deus em favor do seu povo.
Mas, se esta foi talvez a causa mais exigente a que se dedicou o Visconde e pela qual recebeu inúmeras condecorações papais, o seu espírito benemérito levava-o a estar atento a muitas outras causas que apenas reforçam a sua personalidade humana e atenta ao próximo. Extremamente devoto de Nossa Senhora de Lourdes, aí se deslocava várias vezes e dedicou inúmeras horas em favor dos pobres aflitos que aí procuravam a cura através das águas milagrosas que jorravam da gruta de Massabielle. Enquanto membro da associação de voluntários “Hospitalidade de Nossa Senhora de Lourdes”, providenciava apoio na acomodação, na alimentação, no transporte de pessoas com mobilidade reduzida pelo Santuário ou nos banhos nas águas milagrosas. Espiritualmente, com outros membros desta associação, organizava vários momentos de oração e liturgia, como missas ou procissões de velas.
No Porto, a sua cidade natal, não deixou de auxiliar os seminários, o movimento escotista português, instituições de caridade e assistência social ou hospitais, sempre à frente de várias obras caritativas e piedosas, fazendo da sua vida um apostolado contínuo de caridade e de benefício em favor dos que mais necessitavam.
Faleceu em Paris, no Grande Hotel do Louvre, aos 63 anos de idade, a 1 de Setembro de 1925. Os seus restos mortais foram trasladados para Portugal e o funeral decorreu na igreja dos Carmelitas, tendo sido sepultado no cemitério privativo da Lapa.